quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A queda

Hoje caí na rua. Cabisbaixo, alheado das irregularidades do passeio, no fundo a absurdar-me, caí por terra. De nada me valeram os pensamentos que habitavam em mim. Do outro lado da rua foi gargalhada geral. Com cara de pateta, de quem não conhece a outra realidade, limpei as mãos e desandei. Chorei e ri também baixinho. Não pela dor, que foi leve, pela desilusão sentida, por ter acordado inesperadamente para o mundo externo que me faz tédio.
Decididamente, prefiro este quarto escuro recôndito, este castelo de altas ameias. Nele há também quedas, e grandes, nele há cacos e barulhos que me fazem rir, que me incomodam, mas são meus, vivem pacificamente na esquina desta rua deserta, na mesma medida em que sobrevivem os vizinhos da tasca defronte. Acabam por ser tolerantes uns com os outros, suportam-se nas suas ambiguidades. Românticos e neorrealistas, surrealistas e hiperrealistas caminham lado a lado, contradizem-se em todos os minutos mas coabitam sem incomodar ninguém. São como uma roda dentada. Encaixam-se uns nos outros e acabam por dar corda ao relógio do meu tempo.

Sem comentários: