Tenho para mim que não há apenas um tempo. Essa dor permanente, esse entardecer-constante, não passa de um somatório de pequenos tempos, entreatos de um teatro, capítulos de um livro. Nessas pequenas parcelas, por pequenas que sejam, e não são mais que a ânsia da vida, tudo cabe: preocupações, prazeres, assombros, tédios, estorvos, dependerá de cada um de nós.
Do meu tempo pouco ou nada me interessa, quero apenas sonhar, quero deixar-me levar pelo vento do inverno, pelas folhas de outono, pelos livros que leia ou escreva, quero, simplesmente, aquecer-me à lareira dos meus sentidos e, se possível, de quando em vez, restablecer forças nos albergues deste caminho.
Não quero ser normal nem quero coexistir com o mundo. Não tenho ideia exacta de mim próprio, e porque não a tenho prefiro desdenhar de mim, prefiro perder-me no nevoeiro da minha consciência e viver na ubiquidade destes meus tempos. Prefiro sentir frio no verão e calor no inverno, prefiro ser dócil com os outros e granítico comigo, ser frágil e forte, simultanente, prefiro estar perto de mim e longe dos outros, prefiro ter amigos verdadeiros dentro de mim e criar mundos falsos. Quero abandonar-me às substâncias do pensamento, viver com esta centelha de vida sombria que me acompanha dia e noite e que se agarrou a mim como uma lapa.
Quero estar fora do tempo.
sábado, 28 de janeiro de 2012
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