Ontem era outro. Ontem havia em mim substratos de futuro, raspas de crença, banalidades sonhadas. Outrora aconchegava-me em regularidades previsíveis, sonhos multicolores, inocências e ignorâncias felizes. O Sol erguia-se comigo, fazia o ciclo rectilineamente, a chuva não me trazia sons, o vento não me aportava memórias, e eu pensava em nada, sem medos repletos de ilusões. Outrora eu era uno e indivisível, átomo sem electrões, molécula temperamental sem culpas, reles substância real, estável e explicável.
Hoje sei que não sou nada disso, afinal não vou além de um abismo químico do pensamento. Hoje atacam-me exércitos fabulosos armados até aos dentes, infantes cobertos de lúcidas tatuagens, soturnos guerreiros fatais, enganosos pensamentos cheios de mistérios explicáveis.
Rendo-me!
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