Às vezes é-me tão difícil descrever o que sindo, a maranha da floresta tropical é de tal monta densa, que nem sei se tenho uma verdadeira identidade, uma individualidade própria. Fico com a perceção de que tudo aquilo que senti, ao longo de muito tempo, foi falso, fui uma adulterção de mim, esta é a minha verdade deste instante. Fico com a sensação de que as minhas emoções sempre foram comandadas, subordinadas a um mundo externo coerente que pensava existir. Os meus sentimentos sempre foram uma espécie de capacho, esteira de entrada de uma casa em derrocada, e que, sonolentamente, se deixaram embriagar pela solidez que desejava, pela segurança que verdadeiramente não existe e nunca senti. Hoje, e porque vi a verdade, vêm-me à memória a ubiquidade das palavras em parada e de gabinetes, para não lhe chamar outro nome, inflamadas por gestos e dragonas eloquentes. Hoje, em mim, há um prenúncio de morte e um desejo de vida. Hoje vi as verdadeiras aves do paraíso terráqueo, vi aves fascinadas de plumas deslumbrantes e eu sinto-me porco.
Vou tomar banho.
terça-feira, 20 de março de 2012
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