sexta-feira, 2 de março de 2012

A leveza insustentável

Neste fim de tarde, de neurónios exaltados, subo o monte da minha existência. Carrego em mim o peso da metaformose, da transformação constante que sou. Hoje, corre em mim essa fé egípcia, esse belíssimo saber de que vimos à existência em processo de mutação constante. E, porque me conheço, porque sou espetador atento desta ficção de mim, inscrevo sobre o coração o capítulo 30 do Livro dos Mortos. Sinto que vim para empurrar constantemente este monte de esterco e não o disco solar, como o escaravelho, amuleto protetor dos mortos, que neste momento incorporo.
Nessa bola, já enorme, que me ofusca o horizonte e que, em cada volta que dá, em cada influxo de luz que me transforma, misturo os caprichos e o prestígio falso de atos a que assisto diariamente. Nela, nessa bola de esterco, agrego a pompa mundana de um tempo que não vivo. Nela, nessa bola de esterco, anexo as falsidades multicolores que me impedem de sentir. Nela, nessa bola de esterco, reúno todos aqueles que não sentem.
Sinto, logo existo.

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