terça-feira, 24 de abril de 2012
Chuva de letras
Esta garatuja de mim, hoje, surge-me como uma chuva de letras. Começa por se desenhar como uma nuvem lá ao fundo, normalmente uma cor negra, difusa, multiforme. O vento sempre de caras para mim empurra-a e ela vai-se adensando, pouco a pouco. Chegam-me cheiros, cores, vestígios de solidão, sentimentos, evocações, memórias e, finalmente, descarrega. Só quando está muito próxima da consciência adquire forma. Só aí se liberta do peso das gotas, já densas, que ao longo do caminho se foram agrupando por afinidade aleatória, pelo menos assim o considero.
Quando descarrega acontece tempestuosamente, quase sempre de forma diluviana. Palavra puxa palavra, ideia puxa ideia, tudo se condensa, o silêncio torna-se mais profundo, os tiques, que já conheço, intensificam-se, tudo se atrai pela força gravitacional e, por fim, produzem-se imagens repentinas, como um relâmpago (algumas são férteis, reconheço) e que acabo por captar, com dificuldade, com esta tinta inútil.
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