domingo, 29 de abril de 2012
Novamente o "Deus das Moscas"
- Mata a fera! Corta-lhe as goelas! Espalha o sangue!
A turbamulta dos rapazes continuava a dançar em ritmo alucinatório em torno do seu deus. Ele, o deus das moscas, continuava especado no topo da vara que o sustinha. O sangue abençoado, incapaz de vencer a gravidade, escorria em pingos constantes, onde alguns dos rapazes molhavam os dedos e desenhavam pinturas guerreiras na própria face. O movimento das asas do mosquedo brilhava ao sol rasante e criava a ilusão de fadas, de duendes, figuras de animais fantásticos que habitavam em todos eles.
Caíram por terra. Juntaram as mãos. Um grande clarão penetrou nas suas mentes fê-los estremecer. Oraram! Cantaram uma litania uníssona à desesperança, interpretaram na perfeição a beleza da ruína e a perversão da inocência. Glorificaram a uma só voz a náusea do absurdo, o monturo da indiferença, a crueldade e a doçura das fadas e dos duendes.
Sim! Nas fadas também há esse simbolismo dualístico, tão comum na existência humana. Ora nos transportam para a brandura da juventude, ora se transformam em pedras esquinadas que nos arranham e nos ferem constantemente.
O tempo parou! A floresta envolvente trasnformou-se numa enorme catedral gótica. Os raios solares penetravam no folhedo e refractavam-se na atmosfera húmida, a semelhar vitrais de oração à frieza. Um odor a incenso vindo do mar penetrou-lhes nas narinas e, de repente, como se o manipanso tivesse acordado, foram aspergidos pelo hissope de uma onda mais forte que os retirou daquele enlevo malfazejo.
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