terça-feira, 31 de julho de 2012

Viagem ao Fim da Noite


Hoje a noite chega devagar. Chove um silêncio calmo, estranhamente calmo, ao regressar a mim. O silêncio é tanto que até as moscas descansam nele. Sopram brisas serenas, suaves perfumes de uma primavera estratificada por pressões que não quero mas vivo. Navego devagar, nem sons quero ouvir, deixo-me ir simplesmente, nada posso contra os deuses sapientes que, repentinamente, se revelaram em toda sua verdade eloquente. Sei onde tudo desagua.
Arrumo as prateleiras, pego na mala e viajo. Viajo ao fim da noite. Apago as luzes, agarro num livro e entro nos subúrbios de mim. Contagio-me mais uma vez pela simbologia das palavras que devoro. Leio e releio vezes sem conta, à procura de outros sentidos que não aquele que se me revela de imediato. Sinto-me doente, há uma qualquer bactéria que me contagia, que me induz neste caminho da ilusão.
Precavenho-me! Armo a ratoeira da realidade.

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