Para chegar a Santiago de Compostela, nesse dia, seria necessário percorrer cerca de 120 km, o que, à partida, não estava nas nossas contas. O cansaço era muito, e percorrer essa distância depois de 700 Km pedalados, não era fácil. Não havia grandes declives, nos perfis do terreno que nos foram fornecidos em S. Jean-Pied-de-Port, e que íamos visualizando a todo o instante, era um sobe e desce constante, sem haver grandes montanhas a vencer. E foi nessa ânsia de chegar ao topo de mais uma subida, para beneficiar da descida, que se foram percorrendo dezenas de quilómetros debaixo de uma chuva constante. Desde o dia anterior que praticamente não tirava fotografais, fiz uma foto do marco 100, e pouco mais. Quando quis fazer mais uma ao antigo Hospital de Peregrinos de Santo Antão, em Ribadiso de Baixo, e à bonita ponte medieval sobre o rio Iso, no bucólico vale, onde por coincidência fiquei sem alforges da bicicleta, a máquina não funcionou. A chuva foi, sem dúvida, a grande presença neste dia, e ela foi a responsável por decidirmos não pernoitarmos, outra vez, num albergue qualquer do caminho. Estávamos ensopados, no dia seguinte teríamos que vestir roupas molhadas, e isso, foi a causa para que tomássemos a decisão, acertada, de seguir até Santiago, provavelmente reconfortados pelo belo almoço que fizemos em Melide.
Não foi um dia, como foram os primeiros, para refrescarmos a cabeça nas fontes de água fresca, sempre incentivada pelo grupo que se ria com tal comportamento, não foi dia para descansar às sombras das bonitas Igrejas que foram desfilando e que ficaram meias apagadas na minha mente, não foi dia para apreciar os bonitos cruzeiros que se vêem em muitas encruzilhadas, nem tão pouco para fazer montículos de pedras, que nos divertia, e era a forma antiga de marcar o caminho.
BUEN CAMIÑO!
4 comentários:
Olá!
Viveste uma aventura e tanto.Com certeza cada detalhe ficará marcado em sua mente´para sempre .Está sendo gratificante, também viajar com suas memórias.
Abraço
Wanda
São Paulo, 28 de agosto de 2009
Tal como diz a Wanda, com a sua perspicácia, viajar é também transportar a memória da viagem. Sobretudo quando a viagem tem o sortilégio imemorial do Caminho de Santiago. Caminho que na verdade foi a raiz da primeira ideia de Europa que se conhece.
Até Santiago e o abraço ao Santo!
daniel
Obrigado a ambos pelos simpáticos comentários.
Viajar é sempre bom, mas viajar com a dimensão da história e do tempo na mochila é muito mais gratificante, sem dúvida, pelo menos para mim. Como preparação da viajem, procurei fazer o trabalho de casa, como se costuma dizer, procurei conhecer toda a extensão do caminho, mas, sei agora, fiquei muito aquém da sua verdadeira dimensão. Só depois de passar, escutar, olhar e estudar tive a noção de tamanha grandeza, a grandeza de um caminho construído por um povo, anónimo, que seguia as estrelas, a fé, seja aquilo que for, ao longo de muitos séculos, e que construiu uma verdadeira senda cultural. Vi, algures, a comparação do “Caminho de Santiago” como sendo a internet da idade média, e essa é uma comparação muito ajustada, no meu humilde entender.
Abraços.
Um dia de chuva para finalizar a viagem, não terá sido o que mais agradaria aos caminheiros. Aliás, costuma dizer-se que a chegada não é o mais importante; o que realmente interessa é aguentar-se todo o percurso.
Parabéns , Sá Gué. Reli o seu "Diário da Viagem" de ponta a ponta e acho que foi preciso ter muita força de vontade. (Já agora, força nas pernas também).
Achei interessantíssima essa comparação do Caminho de Santiago à internet da Idade Média.
Mais uma vez, parabéns e um grande abraço
Júlia
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