domingo, 26 de abril de 2009

O corpo da Aida.

À noite deitado ao lado da Aida, deitava contas à vida. Todos dormiam, o irmão na quartido da frente, de onde por vezes vinham uns sonidos rangentes, e ele na saleta com o corpo quente da Aida, ali à mão de semear,
pudibundo, sem lhe poder tocar,
o sangue nas veias fremia,
mas ele de mãos postas resistia.

domingo, 19 de abril de 2009

25 de Abril

Terminava a epopeia, era tempo de soltar amarras, esbanjar, libertinar, era tempo de acreditar que “O POVO-UNIDO JAMAIS SERÁ VENCIDO”, mil vezes gritado de punho erguido descendo e subindo ruas e avenidas.

Regressavam da Taprobana, vinham de velas enfunadas, agora da respublica, exibindo cravos vermelhos em vez da cruz do Infante. Não as via, mas estavam lá todas, adernadas; a Bérrio, S. Gabriel, até S. Rafael lá está... velejavam num mar agitado, dissolvidas num nevoeiro espesso como a noite, vinham de mastaréus quebrados, enxárcias destruídas, olhos tristes, semblantes desanimados. Dir-se-ia que fustigadas pelas fúrias do Áfrico velejavam de velas rasgadas, ao longo de toda a ocidental praia lusitana, onde o mar se acaba e a terra começa, ou então por vingança do Neptuno – obrigado a vergar-se à vontade do Gama –, de tridente em riste, furibundo, se ergue dos abismos abissais do Oceano, as devolve depois de longos lustres agasalhadas nas costas de África. E não traziam
Canela, cravo, ardente especiaria
Ou droga salutífera e prestante;
Ou se queres luzente pedraria,

eram antes destroços de vida.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Inquietação

Como ele inquietava consciências!Escrevia nas paredes... Acusava-os de comerem tudo e não deixarem nada. Enaltecia o dom Malapeira que nunca se deixou levar pelos francos e se manteve agarrado ao terrunho, enobrecia a necessitada rebusqueira da amêndoa, engrandecia o cantar dos pássaros que no seu chilrear matutino davam conselhos de vida: poupa, … poupa, … tem-te-na-raiz,… tem-te-na-raiz. Cantava gente anónima: a Rita, o Casimiro, a Etelvina e o Barnabé. Escrevia palavras que até um cego via. Louvava a formiga que vinha em sentido contrário. Visionava um comboio descendente onde vinham todos à janela, uns calados e outros a dar-lhe trela. Cantava corações inteligentes, cantava a solidariedade dos homens e mandava trazer mais um amigo, cantava o dia em que o pintor morreu, os ribeiros, as fontes, o vento, cantava a utopia.

sábado, 4 de abril de 2009

The end.

Não era o fim que o filho tantas vezes escutara, seria antes um fim feliz, mas era um fim. O fim das desculpas, o fim da inocência.
This is the end
My only friend, the end
Of our elaborate plans, the end
Of everything that stands, the end
No safety or surprise, the end
I’ll never look into your eyes... again
Can you Picture what will be
So limits and free
Desperately in need ... of some... stranger’s hand
In a... desperate land?
...