domingo, 31 de janeiro de 2010

Searas

Nos montes em redor não havia palmo de terra que escapasse à enxada, não havia fenda de fraga ou carcavão que não desse centeio. Da Canadinha ao Bravio, dos Marmeirais à Penacurva eram searas ondulantes a perder vista. Lá do alto do Malhãozinho, por onde botava o caminho, as vagas de ondas luminosas dos trigos vagueavam pelas encostas. O olhar alienava-se ao vê-las cirandar docemente, ficava-se de olhos arregalados a vislumbrar aquela onda que subia monte acima, devagar, a perder de vista, sem se perceber muito bem quando aquela terminava e se iniciava outra.

domingo, 24 de janeiro de 2010

A ubiquidade



– A ubiquidade existe. – Afirmou, muito convicto, o homem de cabelos brancos.
– A ubiquidade existe? – instou o seu interlocutor muito estupefacto, perante tal afirmação.
– Existe... – continuou ele. – Não me refiro ao "dom da ubiquidade", não me refiro às capacidades extra-sensoriais que não tenho, nem me refiro à ubiquidade das novas tecnologias que transformam o mundo num lugar comum. Refiro-me à ubiquidade muito humana que nos permite rememorar locais que não esquecemos, falo da beleza das pessoas que habitam esse locais e que nunca se esquecem. A ubiquidade existe.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Agitação Social

Naquela agitação social, complexa, estava patente também a falta de petróleo. Já se via o fundo do barril, todos sabiam disso, mas as fontes de energia renováveis ainda não constituíam uma verdadeira alternativa. Havia quem dissesse que o modelo social estava esgotado, mas nenhum outro surgia como verdadeira alternativa. Apelava-se ao patriotismo, que já ninguém conhecia tal conceito, ao civismo, à cidadania, criavam-se campanhas de mudança de atitude, mas tudo resultava em violentas e fortes contestações de rua. A situação era de tal monta que, muitos países, democracias de pergaminhos, incapazes de estancar toda a agitação social propunham conceitos de sociedade mais controladas, drásticas, sem liberdade de opinião, sem liberdade de reunião, sem…

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Dignidade humana

Não é distante, é logo ali, depois da primeira linha de montes, mesmo ao lado daquela daquela gelha que esconde a liberdade, junto ao caminho da equidade, depois daqueles escombros de guerra amontoados. Fica próxima, à distancia de um olhar de criança, é volumosa, encorpada, tem a dimensão da alma humana. Vê-se perfeitamente, os seus contornos são nítidos, verticais como fios-de-prumo, a atmosfera que a envolve é transparente, cristalina, não há neblinas nem poeiras de luz que a ofusquem. Não tem preço, qualquer um a pode alcançar.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Já não está entre nós...



Notícia

La route chante
Quand je m’en vais
Je fais trois pas…
La route se tait

La route est noire
À perte de vue
Je fais trois pas…
La route n’est plus

Sur la marée haute
Je suis montée
La tête est pleine
Mais le cœur n’a
Pas assez

Mains de dentelle
Figure de bois
Le corps en brique
Les yeux qui piquent

Mains de dentelle
Figure de bois
Je fais trois pas…
Et tu es là

Sur la marée haute
Je suis montée
La tête est pleine
Mais le cœur n’a
Pas assez

sábado, 2 de janeiro de 2010

Ainda as cores...

São vidas embebidas num impressionismo vangoghiano, rodeadas de cores deslumbrantes, rosas-choque, azuis-intensos, brancos-puros, eflorescência de pedras preciosas, mas, no entanto, desconhecem a existência dos cinzentos-pobreza, dos pretos-fome e os amarelos-doentios.