sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Arrumo-me!

Arrumo-me. Arrumo o meu ser na desordem de estar, de existir na irrealidade fora de mim. Vou arrumar-me no deserto incompreensível que sou, de existir apenas na realidade do sonho, de pertencer apenas a esta verdade barulhenta interna que me desperta todas as manhãs.
Vou por ação nesta ilusão. Definitivamente! Vou sentar-me, vou acalentar-me nos fins de tarde, perder-me nos ocasos, nos aranzéis de mim mesmo e esperar que os meus desertos se transformem em ruas apinhadas de gente, que os mares adquiram aromas a terra húmida, que os edifícios se pintem de azul profundo, os girassóis deixem de olhar o sol e as sombras desertem

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

I Jornadas dos Caminhos de Santiago

PROGRAMA
15:00
Inauguração da Exposição Documental
"Pelos Caminhos de Santiago"
Manuel Valdrez e Jorge Torres
15:30
I Jornadas dos Caminhos de Santiago
15:35
Abertura
Professor Carlos José Faria
Presidente da ÁGORArte
15:45
Saudação Terra Verde
Jorge Torres
15H50
“Peregrino ou Caminheiro”
Documentário Terra Verde de autoria de José Beça
Intervenções
Professora Doutora Alcina Manuela de Oliveira Martins"
"Os votos de Santiago na Idade Média: um tributo gerador de conflitos"
16H30
Dr. Manuel Araújo
"Santiago – marcas e caminhos no Porto"
17H00
Dr. Joel Cleto
“O Caminho de Santiago – lenda, sincretismo e património”
17:30
D. Celestino Lores
"Hospitalidad en el Camino de Santiago"
18H00
Apresentação da obra Ultreia! Caminho sem Bermas
de António Sá Gué
da Editora Lema d’Origem
Encerramento
Porto de Honra




domingo, 26 de agosto de 2012

O monstro

No silêncio de mim acordei o monstro. Acordei o monstro da consciência, a lucidez que incomoda, a loucura sã que me arrasta para a incompreensão de tudo, o caminho arredio dos mistérios do nada.
Agora, não me concebo de outra forma. Os dias sucedem-se-me na indiferença dos pensamentos, na mudez das memórias, na consciência inconsciente do sonho.
Gostava de o deixar, deixar de sentir o mundo e os outros como os sinto, gostava de me libertar desta faúlha que incendeia as horas monótonas da minha floresta.
Não o sei fazer. Caminho atento a tudo, repleto de medo. Vou-me refrescando nos meandros de pequenos riachos que ora secam, ora se avolumam neste cacifo que tudo guarda: emoções e memórias, dias e noites, onde se acumulam desordenadamente mágoas e alegrias do tudo e do nada.
Caminho...

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Leitores

Nunca escrevi a pensar em quem me lê. Nunca! Escrevo da forma que sei e gosto, sem pensar em públicos, sem pensar nos outros. Não é uma questão de desrespeito, com é lógico, é uma questão pessoal. São questões que não me interessam absolutamente nada. Sei que as palavras ganham asas, ou não, na mente de quem as lê. Sei que tocam mais uns que outros, o que é normal, e isso basta-me.
No entanto, hoje, confesso que sinto alguma curiosidade em conhecer o tipo de visitantes/leitores que todos os dias aportam a este canto escuro. Os números vão somando todos os dias, os novos leitores também vão aparecendo, mas poucos são aqueles que se atrevem a deixar uma mensagem. Não estou a pedir que o façam, bem pelo contrário, até prefiro que seja assim. Esta é apenas uma forma de abordar a questão seguinte. Quantos andam por aí de alma negra, tal como estes textos que por aqui vão sendo publicados? Quantos são aqueles que no seu silêncio banal também sentem o absurdo do mundo e se revêem nestas palavras?
Fica a questão.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Se pelo menos...

Se pelo menos o vento passasse, talvez pudesse escutar;
Se pelo menos o dia chegasse, talvez o medo passasse;

Se pelo menos o sono chegasse, talvez pudesse sonhar;
Se pelo menos o sonho chegasse, talvez pudesse dormir;

Se pelo menos deixasse de pensar, talvez pudesse descansar;
Se pelo menos a loucura chegasse, talvez deixasse de pensar;

Se pelo menos as palavras se calassem, talvez pudesse parar;
Se pelo menos o silêncio falasse, talvez pudesse sentir;

Se pelo menos a Noite chegasse...

domingo, 19 de agosto de 2012

Nada possuo

Nada possuo. Talvez os meus sonhos os possa considerar meus. Mas até esses tenho algumas dúvidas. Até esses são consequências, causas e efeitos, ações e reações de formas de sentir os outros e o mundo.
Nada possuo. Talvez este eriçar de pele, este arrepio provocado pelos pensamentos que me assaltam, seja meu. Não, não é meu! São abalos do comboio em que viajo.
Nada possuo. Talvez os barulhos quotidianos, que hoje me incomodam, sejam meus. Não os barulhos mas o desprezo que sinto por eles. Talvez só este insustentável peso do nada, talvez só esta absurda confissão seja verdadeiramente minha. O resto é o mundo emoldurado por falsos vidrilhos, páginas ilustradas de um livro para crianças, o resto é o universo artificial suspenso no intervalo do tempo.

sábado, 18 de agosto de 2012

Moonspell



(...)

The day now ends and all within
A greater darkness covers everything
Is there no end for such a pain
Is there no hope, no other life, no way to know?

(...)

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O funil das palavras

Outrora gostava da noite. Nela encontrava o silêncio de que gosto e o alívio da objectividade diária. Nessas horas perscrutava-me e perscrutava o mundo. Refazia as intenções escondidas pelas palavras evitadas, tomava nota das atitudes, das causas e dos efeitos. Esse silêncio punha-me à mostra as frustrações das fragas, a alegria da inconsciência dos montes, a orgia da mentira.
Agora não preciso dela, tenho tudo isso sobre a secretária, nas milhentas palavras que todos os dias me vêm à retina. É como se a sua simbologia tivesse apenas um significado. É como se me afunilassem a mente, ou a mente as afunilasse, não sei bem. É como se convergissem para um ponto em vez de divergirem. Em vez de ampliarem campos, abrir outras portas, parecem fechar-me, levar-
-me para ideias vãs e frias. Todas têm sabor amargo e um cheiro a desilusão. Deixei de as dominar, agora são elas que me dominam. Levam-me, de onda em onda, para um mar de ignorância, de desilusão e ausências sempre incompletas.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A queda

Hoje caí na rua. Cabisbaixo, alheado das irregularidades do passeio, no fundo a absurdar-me, caí por terra. De nada me valeram os pensamentos que habitavam em mim. Do outro lado da rua foi gargalhada geral. Com cara de pateta, de quem não conhece a outra realidade, limpei as mãos e desandei. Chorei e ri também baixinho. Não pela dor, que foi leve, pela desilusão sentida, por ter acordado inesperadamente para o mundo externo que me faz tédio.
Decididamente, prefiro este quarto escuro recôndito, este castelo de altas ameias. Nele há também quedas, e grandes, nele há cacos e barulhos que me fazem rir, que me incomodam, mas são meus, vivem pacificamente na esquina desta rua deserta, na mesma medida em que sobrevivem os vizinhos da tasca defronte. Acabam por ser tolerantes uns com os outros, suportam-se nas suas ambiguidades. Românticos e neorrealistas, surrealistas e hiperrealistas caminham lado a lado, contradizem-se em todos os minutos mas coabitam sem incomodar ninguém. São como uma roda dentada. Encaixam-se uns nos outros e acabam por dar corda ao relógio do meu tempo.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Vazio

Hoje nada registo em mim. Encarrego-me de não viver, de não possuir emoções, consegui fechar as portas deste ermitério e nada sentir. Nem ódio nem amor, nem alegria nem tristeza. Tudo me é vácuo, nada me interessa. Como consegui chegar até aqui? Não sei. Sei-me apenas deserto. Tudo se esvai no esquecimento de mim, nas memórias de nada, na infinitamente pequenez do mundo, nas algemas da liberdade. Tudo desaparece no fumo do cigarro, nas sombras de mais um dia de névoas sebastiânicas, nas nuvens cinzentas de uma espera infinita pela primavera que teima em não existir.
Nada se me revela nas coisas, nem visíveis me parecem ser. Aboli barreiras, transpus as minhas utopias na esperança de encontrar volume na minha interioridade mas tudo permace dogmaticamente vazio. Hoje, pela primeira vez, nem o vazio sinto, encarrego-me de não o sentir.
Todo o mundo está em mim e eu, miraculosamente, não o sinto.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

domingo, 12 de agosto de 2012

Julgar ideias


As horas de silêncio encharcaram-me. Inundaram-me de propósitos e contingências. Como sempre, nele refaço-me vezes sem conta, caio e levanto-me, morro e renasço sempre ao sabor das ilusões, sempre montado nas minhas dúvidas e nas verdades dos outros.
Neste labor maldito, nesta floresta de sentires, todas as horas junto os cacos de mim, em todos os minutos organizo a mala das memórias. Nela retenho as minhas aproximações, afasto as dúvidas, o tédio de ser, mas arranjo forças para seguir. Sei que subo ao cume das dunas para sair da minha alma desértica, sei que sigo no campo da minha infância e que persigo os sonhos que ficaram por resolver, sei que na mochila carrego apenas a incompreensão e o destino. Julguem-me! Quem julga sonhos submersos, quem? Quem julga ideias, quem? Deixem-me… Quero ser eu, este outro eu! Quero ser o “eu” silencioso e fúnebre, sonhador e indiferente, imperfeito e incógnito.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Transmutações


Matei-me, creio que viajei ao nada nietzscheano e regressei. Creio que regressei, ainda não sei, é tudo muito leve, talvez tudo não passe do simples despertar do bafo de vida. Talvez seja o pressentimento da transmutação e nada mais que isso. Talvez não seja mais que o sossego repousante das endorfinas libertadas (e libertadoras) depois de longos quilómetros percorridos.
Não sei!
Decididamente. Sim, há um sossego que me invade, as réplicas dos sentires são leves, de frequências baixas, tudo se vai rarefazendo nas horas que vivo sem viver. Os ruídos do dia transformaram-se em ondas melodiosas do absurdo e vi nascer em mim, cada vez de forma mais nítida: a verdade crua da existência.
Conheço a porta de saída, ou de entrada? Não se sai sem se ter entrado. Não sei onde estou, assim como também não sei se a consigo alcançar.

domingo, 5 de agosto de 2012

Revisões

Hoje é tempo de rever a matéria dada. Reler novamente o que foi dito, distanciado pelo tempo transcorrido. É tempo de me sumariar nas impressões colhidas, de me conservar nas memórias impressas. É tempo de refletir e colher alguma felicidade, função difícil, eu sei, para não dizer impossível, mas porque tal conceito existe enquanto ideia porque não saboreá-la momentaneamente. Não saborear as coisas daqui, essas não passam de ilusões temporalmente definidas que terminarão com a morte, saborear um futuro, uma ideia, uma ilusão. É tempo de agrupar todos esses sentires em mim, tentar encontrar a unidade nas múltiplas tendências que me enformam e por aqui dispersas na simbologia das palavras.
Vou-me!
Fiquem bem.

Dream Theater



(...)
Blurring lines drawn in between
What is right and what is wrong
Victims on the radar string us along

We're on to your agenda
The dead end road to nowhere
(...)

sábado, 4 de agosto de 2012

Sobram-me horas...

Não sei que sentido tem esta viagem armadilhada de horas sem fim. Será que esta massa informe está destinada a permanecer eternamente entre parêntesis, a navegar entre o passado e o futuro, entre a ideia e a razão?
Não sei! Hoje, sei que me sobram horas para encontrar a frase que nada diga, mas que se seja literariamente bela pelos múltiplos sentidos que possa ter. Sei que me sobram horas para me descobrir na futilidade do tempo, me esconder nas minhas limitações, criar-me e destruir-me em simultâneo. Sei que me sobram horas para carregar as minhas dúvidas e os fardos dos outros.
Sobram-me horas para na maranha de mim conseguir encontrar geometria no plasma do pensamento.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Fui


Hoje fui memórias de um futuro e um passado mil vezes revisitado. Fui conversas banais, sempre presentes, da tasca que sobrevive alegre e sociável em frente à janela. Fui sons vibrantes de carros que vivem apressados na rua, onde estive sem estar. Fui palavras soltas de livros que folheei aleatoriamente, e pouco mais fui...
Não me queixo, simplesmente caminho, caminho através do esquecimento de mim, caminho em espaços de separação, conscientes, da inércia subtil de ser e a nada pertencer.
Amanhã serei ou não...

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

A culpa dos livros

Os livros são os grandes culpados das infelicidades que vão pelo mundo, pelo menos das minhas, assim o considero.
Despem-nos, tiram-nos a roupa e depois riem-se de nós. Riem-se da nossa figura frágil, das nossas vergonhas, a tal ponto que nos obrigam a tapar os olhos para não as vermos. São uns pretensiosos, julgam-nos, iludem-nos, concluem, pintam-nos o mundo com cores que não existem, fazem-nos crer que aquelas são as reais e depois, apesar de não terem boca nem cordas vocais para articular um único som, apregoam-nas aos sete ventos como se fossem donos do silêncio.
Os livros são despudorados e imorais, constroem-nos e desconstroem-nos vezes sem conta e conduzem-nos a folguedos que nem passam pela alma do Diabo. Alguma vez se viu!, eles, que nem alma têm, matarem verdades que levaram séculos para se construírem.
Abaixo os livros!
São uns vilões, fazem-nos crer em deuses e descrer nos homens.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

CCR



(...)
I hear hurricanes blowing
I know the end is coming soon
I fear rivers over flowing
I hear the voice of rage and ruin
(...)

A luz do candeeiro

A alma é a coisa mais difícil de descrever. Talvez seja mais fácil para os pintores, não tenho esse dom, gostava, mas parece-me que será mais fácil captá-la nas cores da tela, agarrar um instante revelador, dar-lhe cores, formas disformes e deixar que os outros se projetem nela. Não para mim, que uso as palavras na tentativa de a materializar, que passo horas infinitas à procura de símbolos, de oximoros, de metáforas, mas tudo se me revela inapropriado e inconsequente. É tudo tão ténue... é tudo tão presente e tão ausente... é tudo tão irreal e tão incongruente...
Dói-me a incapacidade de não conseguir penetrar na luz solitária deste candeeiro onde descubro o meu muro, o tédio de não conseguir penetrar nela, de não ser capaz de descrever as emoções, minhas e só minhas, que todas as horas me surgem.
Dói-me este candeeiro oblíquo que apenas projeta sombras murmuras mas que me revelam aquilo que sou: uma sombra irreal, uma névoa, uma folha seca que oscila ao sabor das brisas diárias.