domingo, 19 de agosto de 2012

Nada possuo

Nada possuo. Talvez os meus sonhos os possa considerar meus. Mas até esses tenho algumas dúvidas. Até esses são consequências, causas e efeitos, ações e reações de formas de sentir os outros e o mundo.
Nada possuo. Talvez este eriçar de pele, este arrepio provocado pelos pensamentos que me assaltam, seja meu. Não, não é meu! São abalos do comboio em que viajo.
Nada possuo. Talvez os barulhos quotidianos, que hoje me incomodam, sejam meus. Não os barulhos mas o desprezo que sinto por eles. Talvez só este insustentável peso do nada, talvez só esta absurda confissão seja verdadeiramente minha. O resto é o mundo emoldurado por falsos vidrilhos, páginas ilustradas de um livro para crianças, o resto é o universo artificial suspenso no intervalo do tempo.

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