terça-feira, 30 de março de 2010

sábado, 27 de março de 2010

A idade do tempo


O tempo passou a visitar-me mais assiduamente, dizia o velho. Antigamente, que tinha muito pela frente, raramente me aparecia e, se o fazia, era sempre em forma de trovoada, de uma geada, de uma ventania, o tempo era apenas isso, nada mais. Nunca assumia formas imateriais, ou se o fazia era sempre de forma fugaz. Assomava na dobra de uma ideia, na esquina de um dia, mas imediatamente desaparecia: logo se verá; vamos andando e vendo; isso pouco importa...
Era como se nem existisse.
Agora, que praticamente já o gastei, todos os dias me visita. Todos os dias me traz uma gargalhada de criança, todos os dias joga às caricas no adro da igreja, todos os dias oiço o terror da morte, o medo da doença, a ingratidão da solidão.

domingo, 21 de março de 2010

segunda-feira, 15 de março de 2010

Aprender

– Aprender é muito mais que isso – continuava a explicar o professor –, aprender é ser capaz de se transformar, aprender é abrir dentro de nós um espaço de reflexão e mantê-lo permanentemente aberto. Nunca permitir que se compare a um mero centro comercial onde tudo se pode comprar, ou então a um mero celeiro de conhecimentos, e muito menos a calabouços do saber.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Sons de Sempre - 2



Ei tu,
Aí fora no frio
sozinho, envelhecendo
És capaz de me sentir?

Ei tu,
De pé no corredor
Com pés sarnentos e sorriso fraco
És capaz de me sentir?

Ei tu,
Não os ajudes a enterrar a luz
Não te entregues sem lutar

Ei tu,
Aí fora na sua
Sentado, nu, ao telefone
És capaz de me tocar?

Ei tu,
Com o ouvido contra o muro
Esperando alguém para chamares
És capaz de me tocar?

Ei tu,
Ajudas-me a carregar a pedra?
Abre o teu coração, vou para casa

Mas era apenas fantasia
O muro era muito alto, como tu podes ver
Não importa o quanto ele tentasse, ele não se poderia libertar
E os vermes comeram seu cérebro

Ei tu,
Aí fora, na estrada
Fazendo o que te mandam
És capaz de me sentir?

Ei tu,
Aí fora, além do muro
Quebrando garrafas no corredor
És capaz de me tocar?

Ei tu,
Não me digas que não há nenhuma esperança
Juntos resistimos, separados caímos

domingo, 7 de março de 2010

Ribeiros...

Se eu fosse ribeiro primeiro aprenderia a escutar-me, depois, depois não hesitaria em rasgar montes, a abrir vales, esculpir as mais duras pedras existentes. Não queria ser ribeiro de águas mansas, queria ser torrente de água clara, chegar sem demora ao mar, andar depressa, ir para além do horizonte. Se eu fosse ribeiro não queria navegar em águas paradas, lamacentas, que nada criam, nada produzem, que se limiam a estar, a simplesmente existir, que tudo entopem, incapazes de abrir sulcos nas mais moles consciências. As águas estagnadas não justificam a sua existência.