sábado, 27 de março de 2010

A idade do tempo


O tempo passou a visitar-me mais assiduamente, dizia o velho. Antigamente, que tinha muito pela frente, raramente me aparecia e, se o fazia, era sempre em forma de trovoada, de uma geada, de uma ventania, o tempo era apenas isso, nada mais. Nunca assumia formas imateriais, ou se o fazia era sempre de forma fugaz. Assomava na dobra de uma ideia, na esquina de um dia, mas imediatamente desaparecia: logo se verá; vamos andando e vendo; isso pouco importa...
Era como se nem existisse.
Agora, que praticamente já o gastei, todos os dias me visita. Todos os dias me traz uma gargalhada de criança, todos os dias joga às caricas no adro da igreja, todos os dias oiço o terror da morte, o medo da doença, a ingratidão da solidão.

2 comentários:

Amaral disse...

Sá Gué
Retribuo os vostos de Boa Páscoa.
Abraço amigo

Paula Salema disse...

Excelente texto e perfeita escolha da imagem.
A única coisa que o homem tem realmente dele é o seu tempo.

Boa Páscoa António.