domingo, 13 de dezembro de 2009

A alma das fragas

Sim!, estou aqui, quieta e muda, mas nem por isso estou calma. Inquieta-me a tua noção de tempo. Agora que sobes ao meu dorso, digo-te que, tal como tu, muitos o fizeram antes. Mouros e cristãos, repúblicanos e monárquicos, liberais e não-liberais, todos descansaram à minha sombra, todos se encostaram a mim, mas todos vi desaparecer no final da curva. Eu não sou mera folha caduca. Tu sim!, mal terás tempo para ver o caminho que pensas alcançar aí do alto.
Eu!, não esqueço que venho das entranhas da terra, da gélida escuridão, eu!, não esqueço que nasci no milagroso e caótico inferno do princípio dos tempos.
Depois!, depois fiz-me, tal como tu, mero mortal, ascendi à superfície, lentamente, moldaram-me forças que tu próprio desconheces. Não penses que 100 anos é muito tempo. Foi apenas há dois dias que vi nascer o sol pela primeira vez. Foi ontem que, pela primeira vez, senti este teimoso vento na face. Desde ontem que este musgo, esta vida que me cobre, cria em mim uma energia transbordante que tu teimas em não compreender.
Não!, não sou mero aglomerado de quartzo, feldspato e mica.

1 comentário:

Wanda Wenceslau disse...

Olá!
O que dizer?

Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo...
"Fernando Pessoa"


Abraço