Todas as crianças no parque Procuram a escultura para descobrir onde estás. Todos os cegos na escuridão, seguem-te. Sabes para onde vais? Todos os viajantes no caminho Libertam-se da carga e vêem para onde vais. Todos os mortais com suas perdas Seguem-te para qualquer lugar, seguem-te. Sabes para onde vais? Filósofo, Olha ao teu redor, Verás que estão por todo o lado, Todas essas pessoas estão caindo. Filósofo, Podes sobreviver no mundo que ensinas? E podemos viver no mundo que pregas? Toda a gente está fora desse alcance. Todas a gente quer mais, Têm necessidade de seguir um filósofo. Os ricos e os pobres Seguem-te para qualquer lugar, seguem-te. Sabes para onde vais? Filósofo, Olha ao teu redor Verás que estão por todo o lado, Todas essas pessoas estão caindo. Filósofo, Podes sobreviver no mundo que ensinas? E podemos viver no mundo que pregas? Todas a gente está fora desse alcance. Filósofo, Olha ao teu redor Verás que estão por todo o lado Todas essas pessoas estão caindo.
O caminho estava cada vez difícil de percorrer. Não porque surgissem pedregulhos que impedissem o andamento, bem pelo contrário, não faltavam máquinas escavadoras e niveladoras a desbravar o caminho. A dificuldade era de outra monta. Um nevoeiro imbecilizante impedia de ver a direcção do caminho. Os marinheiros navegavam com terra à vista, os aviões não levantavam voo, os caminheiros, impotentes, aguardavam em casa, pacientemente, que o maldito nevoeiro se dissipasse.
Nunca tinha visto a luz do dia. Para ele a geometria das coisas era extasiante. Para ele que não conhecia a geometria da natureza o significado das palavras tinham sempre um encantamento especial, todos os seus referentes eram maravilhosos. Ele que nunca tinha visto as cores da doença, que nunca tinha visto a cara da fome quando lhe restituíram a visão entrou em depressão profunda. Aquele não era o seu mundo, preferia a cegueira.
Fui-me. Um emaranhado de sentimentos percorreu-me o corpo. Jurei nunca mais voltar. Queria estar longe, longe daquele turbilhão de emoções que afluiam sem perceber a sua origem. Fugi. Hoje sei que o nascedouro era um desassossego de dúvidas sistemáticas que me perseguiam há muito tempo, mas consegui libertar-me delas. Pode até ser um poema do tamanho do mundo, como dizes, mas não existe: caro amigo, o “se...” não existe, não me convences, não existe!Ponto.