– Neste ponto da viagem, onde a insipidez e a monotonia egocêntrica do caminho se associa ao cansaço, torna-se-me evidente que o cérebro produz a consciência das coisas e atribui-lhe sempre uma grandeza em função daquilo que somos – interrompeu o Daniel. – Não falo, obviamente, da grandeza física, falo de uma grandeza subjectiva, mas, se calhar, até a grandeza física é uma função da pessoa. Existem diferentes tamanhos para as coisas, dependem da nossa riqueza interior. Quem não achou minúsculos os espaços que na infância eram enormes? O cérebro não é mero transmissor das sensações, tenham elas a origem que tiverem. Ele é muito mais do que isso, é o gerador e o grande fautor da grandeza das coisas.
O caminho pode adquirir múltiplos significados, dependendo da cultura e dos genes de quem o percorre. Pode não passar de mera vereda limpa, isenta de silvas e giestas, flanqueada por uma tantas igrejas que não vão além de vulgares paredes de pedra talhada. Ou, então, o caminho é uma estrada do conhecimento, uma estrada de transformação da matéria, bordejada de obras-primas da criação humana que emergem da terra sagrada, casas de Deus em que se acredita, e onde tudo se faz em sua honra. Um livro aberto, cultura viva, linguagem que todos percebemos, argamassa que nos une e nos orientou naquilo que somos. Essas visões dependem de nós, da forma como apreendemos o mundo e nos relacionamos com ele.
Fazer o caminho é, juro, um acto interior, e reflexivo.
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário