quarta-feira, 24 de junho de 2009

ETAPA - 1


Saímos de S. Jean Pied de Port cerca das 8 horas da manhã, depois de termos dormido num dos muitos albergues existentes na vila, e que, por sinal, nesse dia, segundo a loja dos “Amigos do Caminho”, esgotou a capacidade de camas existentes.
O dia anunciava-se nebuloso, o que podia considerar-se uma bênção, atendendo ao facto dos declives que era necessário vencer. Logo após a saída da “Porta de Espanha”, que corresponde ao fim da rua principal da vila, e o início do próprio caminho, este bifurca, e uma placa avisa para não seguir o da esquerda em caso de mau tempo. Optámos pelo da direita, tendo em consideração o tempo e algum dos receios de difíceis declives que toda a gente referia com muito íngremes. Fiquei sem saber como eram os da esquerda, fiquei sem conhecer a "Passagem de Napoleão", mas uma coisa eu sei, aquele por onde optámos era muito difícil. Veredas estreitas, córregos sombrios mas refrescantes, inclinações de tal forma elevada que durante os períodos de curta paragem, nem dava para descansar correctamente. Um pouco perdidos nos vales e na densidade da vegetação só os sons da terra eram audíveis, só o sussurrar dos ribeiros, o cantar da passarada, só o ramalhar das árvores se misturavam com a respiração ofegante de todos nós. Foi um alívio quando cheguei a Ibañeta e avistei o monumento de homenagem ao bravo Rolando. Daí a Roncesvales que, para mim, era um local a não perder, pelo simbolismo histórico, são cinco minutos, ou menos. Confesso que o idealizava mais como um conceito místico do que propriamente geográfico. Imaginei-a sempre como uma vila com muitos habitantes, mas depressa conclui que Roncesvales se tratava apenas de um marco histórico, onde as construções se resumiam à Igreja e edifícios pertença da Real Colegiada de Nossa Senhora de Roncesvales. Administrativamente pertencente a Burguete/Auriz.
Almoçámos, quer dizer, alguns de nós comeram a merenda sobrante do dia anterior, que as mochilas estavam pesadas e era preciso aliviar, outros optaram por um bocadilho bem aviado de jambom e queso, uma coca-cola que, segundo dizem, ajuda no esforço. Devorei com o olhar as igrejas, os edifícios, os recantos, e abalámos depressa, porque o destino ainda estava longe: Pamplona.
Logo à saída, como que a avisar, uma placa dizia: Santiago de Compostela 790 Km. Ninguém quer desistir, perguntou alguém. A resposta foi unânime, envolta numa gargalhada, que todos sabíamos qual era o seu significado. Seguimos, agora por caminhos gravilhosos debaixo de um sol escaldante, sempre à cata das setas, atravessando pequenos riachos bem como a estrada nacional que se ia cruzando com o caminho milenar.
Nesta tarde foi particularmente difícil chegar ao alto de Erro. No registo das centenas de fotos que fiz ficaram as pontes de Zubiri e Larrasoaña . Sobre a primeira, sei agora, ser chamada da raiva porque, segunda a tradição, os animais que passavam sob os seus arcos ficavam curados dessa doença. Na segunda apelidada de “Los Bandidos” por naquele local os peregrinos sofrerem muitos assaltos.

BUEN CAMIÑO!

2 comentários:

Wanda Wenceslau disse...

Olá
Estou deliciando-me com a viagem!
Espero continuação!
Abraço
Wanda
São Paulo,25 de junho de 2009

Júlia Ribeiro disse...

A viagem de uma vida!
E, na descrição do Sá Gué, seguimos a rota.
Um abraço
Júlia