A cena merece ser contada, tem todos os ingredientes destes tempos pós-modernos que todos vivemos. O seu embrulho era impecável: era alto, desempenado, gravata de seda, camisa branca debaixo de um casaco impecavelmente limpo. O homem vendia livros, o que acabava por rematar todo aquele ar sapiente que Deus lhe deu, digo, o Dinheiro lhe deu. Os clientes, um pouco receosos, aproximavam-se dele de livros numa mão e cartão de crédito noutra, e ele, de telemóvel em punho, sem se dignar olhar para eles, sem mostrar a mínima delicadeza para quem lhe punha o dinheiro na mão, continuava a delinear, de viva voz, o encontro com a amante em Paris.
De certeza que avaliava livros pela capa.