sábado, 7 de janeiro de 2012

À janela

Recolho-me e escuto o silêncio.
Fecho a porta e escancaro a janela da existência. Fecho os olhos e fico a contemplar tudo. Vou, sozinho, estrada fora, percorro montes e vales, passo vielas e atravesso avenidas. A paisagem passa à frente dos meus olhos como se fosse um filme. Nada é real, nem mesmo eu, tudo não passa de um sonho. Creio que ainda não durmo. Aconchego-me nas memórias de um outro espaço e de um outro tempo, que me parece distante.
Durmo.
Encosto-me ao aiar e aos sussuros das violas silenciosas. Sigo os ritmos que não conheço, caminho por paisagens de sons que me aquecem e me inspiram. Oiço-as repetidamente, sem me cansar, encontro sempre nelas motivos para as ouvir mais uma vez, sempre mais uma vez... sempre mais uma vez.
Redurmo.
Reparo agora que, lá fora, o vento fustiga a janela onde me debruço. Escrevo! Escrevo sem nexo, sem preocupações de qualquer ordem, sigo apenas o ribeiro de ideias que nasce em mim, persigo como cão de caça os paradoxos existênciais, farejo os sentimentos incongruentes e inconsequentes que me enformam.
Restam-me vestígios na consciência das cores que, momentos antes, tanto me arrebaram.
Esqueço-me de tudo.

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