quinta-feira, 12 de abril de 2012

Alquimia do sono

Hoje desci da montanha e venho encontrar-me num vale ameno, verdejante, inexistente. Sem querer deixo-me escorregar em mim, bato à porta deste hóspede austero, passo pelas dobras do coração e deixo fluir o sangue numa torrente calma, de sentires primaveris. As pupilas dilatam-se-me e as cores capto-as em formas de sons, os sons transformam-se em pétalas musicais aveludadas. Pressiono as teclas e emergem palavras de paladares embaladores e suaves que tacteio ao delével. Nas melodiosas ondas musicais, que agora ouço, evolam-se licorosos vapores que as narinas não captam e as palavras não exprimem, por mais que tente e as repise.
Hoje desci à alquimia do sono, estalajadeiro de sonhos, ao lugar dos luares trigueiros, das cordas de cravos beliscadas, ondas vibratórias de pianos, deléveis cócegas cerebrais, arrepiantes, de penas de ave, devaneio de sensações e emoções que só o sonho admite. Neste almofariz anárquico de mim mesmo, tudo misturo. Nele, nada se perde, tudo se transforma.
Hoje desci ao vale dos sonhos, força humana capaz de iludir os sentidos.

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