segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O Grande Circo

As mudanças radicais esperadas são muitas, a crer no mestre-de-cerimónias do Grande Circo Ocidental: entrem senhores, entrem! Pasmem-se com robots mais inteligentes do que os homens. Venham ver o leão teletransportado a partir de África, venham antecipar o futuro, regressem ao passado. E os gentios, já persuadidos pelas cerimoniosas palavras, impacientavam-se ao longo da fila, bebendo-lhe com avidez as palavras. Esqueçam a ficção cinéfila mais ousada – continuava –, esqueçam o dróide C-3PO e o biónico Darth Vader da Guerra das Estrelas, entrem num universo paralelo onde se desenvolveu uma nova espécie, dominadora e dominada. Venham conhecer o verdadeiro homem-máquina, saibam mais dos seus neurodispositivos, implantes cerebrais que lhe potencializam as funções cerebrais. Cavalheiros! Venham adquirir a viagem da vossa vida, venham sentir a imponderabilidade de umas férias na Lua.
E não era banha da cobra que anunciava. Era a mais pura das realidades. Lá dentro, na grande tenda, o primeiro andróide desafiava qualquer humano numa partida de xadrez. Na outra pista, o primeiro cyborg-pintor elaborava, mecanicamente e em poucos segundos, imagens fractais de raríssima beleza. O mestre-de-cerimónias, na exaltação do momento, atrevia-se a chama-lhe “arte”. E os humanos, nas bancadas, passivamente sentados, geneticamente transformados, mecanicamente educados, já esquecidos de Rembrandt e de Picasso, aplaudiam tamanha proeza.

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