terça-feira, 8 de novembro de 2011

O mito das nereidas

Créditos autorais da imagem:
Título: Áqua
Autor: SAGA
Chamavam-lhe o “sonhador”, o “inocente”, inocente com aquele significado de imbecil. Ele bem sabia isso mas nunca se importava, continuava a devanear por tudo e por nada e, em boa verdade, não era nada disso que sentia. Bem pelo contrário! Tempestades enormes levantavam-se-lhe do nada. Coriscos assolavam-no continuamente, roncos do diabo e ondas medonhas erguiam-se-lhe em todas as dimensões.
E foi com estes pensamentos na cabeça que, um dia, já depois dos trinta, se levantou com a bela Aurora e foi escutar as nereidas à Fonte dos Sonhos. Foi sozinho, não disse a ninguém, queria ouvi-las, queria ter a certeza que conseguia provar a si próprio a sua existência.
Ainda ia longe e já um cântico longínquo o encantava. Parou. Apurou o ouvido e teve a certeza que aquele poema só podia ser das filhas de Nereu, era demasiado belo para ser deste mundo. Era longínquo, mas profundamente humano. Voltou a parar. Agora, caminhava lentamente, em bico de pés. Quanto mais se aproximava mais tinha a certeza daquilo que ouvia. O jorro de água marulhava e, lá dentro, uma sinfonia wagneriana, tumultuosa, manifestava-se-lhe na sombra da sua anima.

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