terça-feira, 30 de outubro de 2012

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

OS ISIDROS – A epopeia de uma família de cristãos-novos de Torre de Moncorvo

A alma é também um abismo temporal e ainda bem. A minha é medieva, sei-o agora. Gosta de viajar nas dimensões do passado, de reconhecer as pessoas que existem nas páginas dos livros e captar-
-lhes a tristeza inenarrável sentida nas acusações mesquinhas e interesseiras feitas em nome de uma verdade insincera.
Gosta de se transformar nas suas vidas quotidianas, de as sentir percorrer as ruas que também percorre, de as olhar nos olhos e descortinar neles a força e a esperança para enfrentar os murmúrios acusatórios dos vizinhos e dos amigos. Gosta de conhecer a realidade prismática que foram obrigados a viver e que transformaram em defesa da sua verdade.
Sente que lhes pertence. Sente que tem dentro dela o verbo das orações, os sonhos inacabados antes de tempo, a calma de quem tem a consciência tranquila e nada tem que temer.
Este não é apenas um livro de pesquiza histórica, de perseguição e de intolerância. Ultrapassa a narrativa fria da ciência e vai-nos dando quadros de um quotidiano que nos ajuda a compreender as emoções, os sentimentos e as posições de quem não se verga e morre na fogueira, de quem não resiste à dor e é obrigado a renegar as crenças do amanhã.

Lançamento: Ver aqui.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Trilogia



Lágrimas secas, duras como a razão, brotam da confusão do pensamento, dos dias nunca vividos, das noites congeladas de infância.
Flores de ilusão vão nascendo entre calhaus arredondados pela aspereza das conclusões, pelos sorrisos incompreendidos, pelas duas faces de Janus.
Mentiras de alegria nascem de dentro para fora, tropeçam em soluços de tristeza, correm em trilhos cruéis só visíveis à luz da noite.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Estalactites




Precipita-se o carbonato de cálcio, o absurdo, substância terrível de todas as horas. Cresce a estalactite da existência, gota a gota, pingo a pingo, cresce a desilusão, cresce a fenda de tudo relacionar.
Não pares, continua a crescer para baixo fórmula primitiva de ter. Não pares, precipita-te até tocares o mundo, até romperes o véu do entendimento.
Cresce, cresce abismo de ser, espuma, perde-te, vence-te, cansa-te, quebra o equilíbrio gravítico de forças que se adensam e se embaraçam num tecto dormente, artificial, sem tempo nem sonho.

domingo, 21 de outubro de 2012

sábado, 20 de outubro de 2012

Arquiteturas




É um condenado à deriva. Gosta de caminhar sozinho e rápido, provavelmente, na tentativa de se encontrar mas, por razões que desconhece, chega sempre atrasado. Verga-se aos medos acumulados, relaciona o passado sempre em silêncio, repisa a lava que dele brota mas as palavras saem-lhe sempre desconexas, maleáveis, sem a razão de ciência. Tudo lhe é estranho. Alegrias de sociabilidade, dispensa-as. Grinaldas de vaidade liberta-as no mar de confiança pelos outros, não nele. Nele, encurrala as nuvens silenciosas, os ventos tempestuosos, o sol de sentires...
Ele é um condenado às galés. Veleja entre o real e o irreal e não sabe distinguir a diferença. Desfralda as velas para escutar os sussurros de estátuas imortais, as cores, as formas, mas tudo são mistérios do horrível.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

O arco-íris



Levantou-se e seguiu o caminho de ontem. Não via alternativas, nem bifurcações por onde caminhar. Tudo lhe surgia claro. O caminho de ontem é aquele que agora trilha. O caminho de hoje será o caminho de amanhã. Foi com esta verdade banal a encharcar-lhe a cabeça que chegou ao rio dos sonhos. Agarrou as estrelas, escutou as ninfas das águas, olhou o céu azul e viu o arco-íris reflectido nas árvores. Decide segui-lo. Andou, correu, subiu e desceu montes... crente que conseguiria tocá-lo. Cansado, descrente, exangue pelo esforço, parou.
Sentou-se no banco do pensamento e esperou que o tédio desaparecesse.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Visão sem alternativa



Descia da montanha. Sentou-se na encosta íngreme e olhou o além-
-de-si sem esperança. Percorreu o vale, perscrutou a encosta fronteira e procurou o sentido do rio. Seguiu-o com o olhar. Sentiu-
-lhe a força do momento e deixou-se ir no silêncio das estações. Navegou em torno da história, andou às voltas na memória e esgotou-se para tocar as extremidades. Tentou voar mas a frialdade que o percorria impedia-o de ascender nas asas das correntes quentes. Desistiu! O vento glacial que agora soprava e as risadas das promessas nunca cumpridas nebulavam-lhe a mente. Tanta gente! Tanta luz suave.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Johnny Cash



I hurt myself today,
To see if I still feel,
I focus on the pain,
The only thing that's real

(...)

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Está escrito nos livros


Está escrito nos livros
As verdades são simples

O gelo derrete
As memórias não

Os pássaros voam
O pensamento corrói

O sonho existe
fica entre a madrugada e o nada

Os lobos não fogem
combatem o passado

O silêncio incomoda
E não entendo o porquê

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Não me perguntes

Não me perguntes. Eu já naveguei no mundo, mas nada sei. Eu sou a ilha inabitada, a dobra tectónica de placas inexistentes, a nuvem passageira disforme e inconsequente.
Não me perguntes nada. Não precisas de acreditar em ninguém, está tudo dentro de ti. Sê tu! Segue-te!
Não me sigas. Eu não existo. Eu sou uma sombra de mim, a máscara de carnaval imprudente onde soam razões de uma ciência sem respostas. Não me sigas. Eu sou a esquina sem esquadria de uma tarde longínqua, um momento impresso na distância da noite.
Não digas nada. A vida é uma fantasia: segue-a.
Eu estou perdido... Dá-me a tua mão.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Fechadura

Creio na individualidade...
Nela giro
Nela caio com vertigens
Nela me perco
E recomeço todos os dias

Creio na individualidade...
No volante dos meus sonhos
A risca no céu que me liberta e me assombra

Creio na individualidade...
Nela sintonizo os acordes da música que ouço
Nela pinto as paisagens irreais

Creio na individualidade...
Nela gravo símbolos que não conheço
E pedaços do amanhã

Creio na guardiã do segredo “conhecer”

Neil Young

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Cinzas tétricas

As emoções revelam-lhe tristes restos em agonia. O professor insano, de métodos pouco convencionais, jaz pregado no corredor do tempo. Um silêncio de lua cheia trespassa-lhe o peito. Tédios, em estratégia de aranha, espreitam na sombra do pensamento. Morre! Morre pregado nos sonhos de menino que, num ato de benevolência, ainda lhe seguram o coração.
Já não vê os olhos que foram dele. Quase não escuta os lábios de infância que lhe iluminavam as vésperas de um mundo numinoso. Já não sente a alegria de tardes soalheirosas. As emoções dos encantos esvaecem-se... Nada acontece, nem um sinal de resistência.
Finalmente o congelamento.