Não sei que sentimentos me conduzem nesta vacuidade em mim gerada. É como que uma espécie de inquietação morta, um abismo com vida, ou então, uma história sem memória. Serei culpado desta condição? Serei culpado desta indiferença dolorosa, desta lucidez indefinida, deste querer estar e não estar, de ser e não ser, desta vontade de não querer receber e de não querer dar? Serei culpado deste cavalo de Troia em mim gerado?
Que eu é este?
Não sei como cheguei aqui.
Sou uma ficção. O cárcere de uma ideia e a abstracção de uma utopia. Sou o pavor de uma consciência e a humanidade de uma substância que orvalha. Sou o universo de uma criança e o horror de pertencer. Sou albergue de alguma luz e o pavor de um gládio. Sou girassol e uma coroa de espinhos. Sou montanha e vale, sol e satélite, ciclone e bonança, o eu e o outro... Sou sobras de um desejo.
Sou...
Hey Joe, where you goin' with that gun in your hand?
Hey Joe, I said where you goin' with that gun in your hand?
Alright. I'm goin down to shoot my old lady,
you know I caught her messin' 'round with another man.
Yeah,! I'm goin' down to shoot my old lady,
you know I caught her messin' 'round with another man.
Huh! And that ain't too cool
Às vezes penso no meu futuro. Sei que será sempre uma incógnita, sei que não passa de um somatório de momentos inocentes, de decisões erráticas do passado, sei que nunca o conseguirei desvendar. Surge-me do nada, em momentos de lucidez, talvez, aparece em momentos de arrepio e silêncio, sempre impressos na tinta esvaecida da minha mente, moldado em sussuros de argila que não consigo tocar.
Às vezes penso no futuro e surge-me sempre o passado. Não aquele que não vivi. Esse não acredito nele! O passado que vivi mesmo sem ter vivido. O passado da felicidade ignorante de ser, o passado da ávida ansiedade do futuro, o passado da sã loucura de não conhecer.
Às vezes penso no futuro...
Aventurei-me e mitfiquei-me.
Corro neste canal do tempo que eu próprio criei mas, sei hoje, que o mesmo não me pertence. Percorri, involuntariamente, os rios finitos da memória mas tornaram-se infinitos. Procurei magia nas palavras e enfeiticei-me no nevoeiro da minha noite.
Parece que tudo se passa nas costas do espelho, sem que consiga perceber. Reflecti-me à procura do destino e enfeiticei-me pelo precipício do futuro. Olhei-me na busca do irreal e toquei a realidade. Procurei o futuro e misturou-se-me com o passado. Encostei-me na cadeira e encontrei o desassossego.
Resta-me o mistério do sonho.
After School is over you're playing in the park
Don't be out too late, don't let it get too dark
They tell you not to hang around and learn what life's about
And grow up just like them - won't you let it work it out
- and you're full of doubt
Não conheço a autora desta obra. Quando a li pela 1.ª vez, já lá vão uns meses, fiquei com a impressão que se trataria de alguém com um fascínio supremo pelo imaginário, alguém que possui o dom de se assenhorear, com facilidade, da nossa sensibilidade, de nos tocar com as palavras que usa. Tudo isto mantenho. Perante esta constatação a imagem mental que construí dela foi de alguém a entrar na casa dos “entas”, adulta, portanto. Enganei-me redondamente! É uma jovem a quem antevejo um grande futuro, enquanto autora, caso consiga furar os valores deste nosso tempo.