segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Simplesmente palavras

Imagem extraída da obra (Re)Cantos d'Amar Morto de Pedro Castelhano

À noite, quando a luz é difusa, as formas difundem-se na escuridão, parecem adquirir uma outra dimensão, transformam-se, e eu transformo-me com elas. Vem do fundo do meu ser, que já bem conheço, um submundo que apesar de obscurecido considero humano. Vêm de um local onde também há pouca luz, já o disse, um local onde a tridimensionalidade deste mundo parece adquirir formas bidimensionais e onde gosto de me movimentar. É um labirinto, um vórtice onde me perco, um poço onde sigo o ritmo das palavras, onde as persigo dentro de um dicionário caótico, desordenado, muitas vezes sem saber aonde me querem levar. São sensualidades que não consigo descrever, são incorpóreas, fluidas como os ribeiros, devaneios neuróticos, talvez, formicações que me correm nas veias e me convertem nestes pedaços desconexados que por aqui jazem.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Feist- Strangers



Where you're going i don't mind
Well i killed my world and i killed my time
Where do i go what do i see?
I see many people looking out for me

Where you're going i don't mind
If i live too long i'm afraid i'll die
So i will follow you wherever you go
If your offered hand still open to me

(...)

sábado, 28 de janeiro de 2012

Fora do tempo

Tenho para mim que não há apenas um tempo. Essa dor permanente, esse entardecer-constante, não passa de um somatório de pequenos tempos, entreatos de um teatro, capítulos de um livro. Nessas pequenas parcelas, por pequenas que sejam, e não são mais que a ânsia da vida, tudo cabe: preocupações, prazeres, assombros, tédios, estorvos, dependerá de cada um de nós.
Do meu tempo pouco ou nada me interessa, quero apenas sonhar, quero deixar-me levar pelo vento do inverno, pelas folhas de outono, pelos livros que leia ou escreva, quero, simplesmente, aquecer-me à lareira dos meus sentidos e, se possível, de quando em vez, restablecer forças nos albergues deste caminho.
Não quero ser normal nem quero coexistir com o mundo. Não tenho ideia exacta de mim próprio, e porque não a tenho prefiro desdenhar de mim, prefiro perder-me no nevoeiro da minha consciência e viver na ubiquidade destes meus tempos. Prefiro sentir frio no verão e calor no inverno, prefiro ser dócil com os outros e granítico comigo, ser frágil e forte, simultanente, prefiro estar perto de mim e longe dos outros, prefiro ter amigos verdadeiros dentro de mim e criar mundos falsos. Quero abandonar-me às substâncias do pensamento, viver com esta centelha de vida sombria que me acompanha dia e noite e que se agarrou a mim como uma lapa.
Quero estar fora do tempo.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A verdade naquela hora

(A imagem encontra-se protegida por direitos autorais)

Às vezes sinto-me aprisionado. Não na minha liberdade porque dessa não abdico. As amarras dos preconceitos colocam-me, por vezes, perante o eterno conflito: atracção/rejeição. Paro. Abro os olhos, os volumes geométricos dos móveis fazem-me regressar à realidade. Procuro razões para resolver o conflito. Por breves momentos sopeso tudo o que sou. Sopeso o interior e o exterior, o real e o irreal. E a questão coloca-se-me: o que é real e o que é irreal, se tudo vem de mim? Fecho os olhos e cedo ao sono.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Sabe-me bem

Serei sempre difícil de entender. Apesar do dia cinzento que se adivinha, hoje, sinto-me bem comigo. Estou num dia em que não vejo abismos, nuvens negras, contradições nem frustrações. Hoje, sabe-me bem pairar em mim, perder-me no tempo. Embrenhar-me nos livros escritos e deixar voar as horas, aconchegar-me no seu regaço, apoiar-me nas suas ideias. Sabe-me bem reler, trecho a trecho, tudo quanto tenho escrito.
Hoje, apetece-me fugir. Não para África, ou Egipto, que não conheço e que desejo conhecer. Hoje apetece-me fugir, refugiar-me na Caverna, permitir que as sombras da aparência da minha alegoria deambulem livremente e libertas de preconceitos, deixar entrar a luz, ascender à verdade.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Rui Reininho e Rodrigo Leão

Fermento de Liberdade

Apresentações:

- FNAC de Santa Catarina no Porto, no dia 26 de Janeiro de 2012 (quinta-feira), pelas 18H00;
- Auditório da Biblioteca Municipal Dr. Júlio Teixeira, em Vila Real, no dia 28 de Janeiro de 2012 (sábado), pelas 16h00.

Aparece!

Saber mais.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Falta de saber

O pensamento é, sem sombra de dúvida, o ruminar constante da condição humana, um mumúrio permanente, ruído de fundo cerebral do nosso Big Bang: o nosso nascimento. Quando assim o entendo e em simultâneo tento compreender as razões do escrever que, no fundo, não passa da sistematização do pensamento e das emoções de cada um de nós, parece-me um ato inútil, sem razão de existir. Que têm os outros a ver com a vida mental de cada um de nós? Nada! Absolutamente nada.
Por outro lado, nesta agitação maníaca constante, acabo por encontar a fórmula de controlo das emoções perturbadodoras. É, quase, como uma cirurgia, um corte entre as emoções e o pensamento.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Estrangeiro?

Estrangeiro perante tudo e perante todos, mas simultaneamente tão perto de todos eles. Naquela sua inconsciência, além de entrar nele, teve a perfeita noção de quão próximo estava daquela gente, daqueles ritmos, daqueles chocalhares, daquelas máscaras, daquele sentir. Viu a ligação. Sentiu esse cordão umbilical. O seu humanismo cresceu: uma só terra, um só povo.

sábado, 14 de janeiro de 2012

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Livros lidos

Acabei de ler mais um livro. Este, como outros, também ficará em mim durante muito tempo. Reflito nele. Absorto, filtrado por esta minha desatenção, a roçar o doentio, folhei-o lentamente. Leio frases incompletas, soletro palavras soltas, passo páginas rapidamente e levanta-se uma leve brisa de Perfume que vem de um outro mundo. Para trás ficaram páginas repletas de conceitos solúveis e instantâneos, folhas onde se derramaram fluidos que se empregnaram em tecidos, um autêntico grémio literário de silêncios olfactivos que, também eu, gostava de um dia conseguir descrever.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Codornos de mim

Estes codornos de mim, que por aqui vegetam, nem todos o são. Não são borrifos de uma personalidade, longe disso! Para o serem teriam que ser concretos e definidos, e não o são. Não sei distinguir os reais dos não reais. Tudo se mistura, memórias vestidas e não vestidas, sombras de um passado sem futuro, sonhos de mim mesmo, transmutações, evasões mundanas, talvez, tudo isso não seja mais do que a Insustentável Leveza do Ser.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Antecipar

Antecipo tudo. Hábito, pecha pessoal ou profissional, pouco interessa, o certo que antecipo tudo. Antevejo, planeio, esquadrinho, anteponho, vivo antecipadamente ao mais ínfimo pormenor todos os acontecimentos futuros. Este viver permanentemente para o exterior, que existe em mim, mas simultanemante contranatura cria-me indisposições emocionais, rilha-me os ossos, afadiga-me. Faço todos os esforços para me libertar dele, crio abrigos, escondo-me nas dobras de mim, reduzo o contato com os outros mas torna-se-me inevitável fugir a esta focalização (quase paralisia) cerebral.

domingo, 8 de janeiro de 2012

sábado, 7 de janeiro de 2012

À janela

Recolho-me e escuto o silêncio.
Fecho a porta e escancaro a janela da existência. Fecho os olhos e fico a contemplar tudo. Vou, sozinho, estrada fora, percorro montes e vales, passo vielas e atravesso avenidas. A paisagem passa à frente dos meus olhos como se fosse um filme. Nada é real, nem mesmo eu, tudo não passa de um sonho. Creio que ainda não durmo. Aconchego-me nas memórias de um outro espaço e de um outro tempo, que me parece distante.
Durmo.
Encosto-me ao aiar e aos sussuros das violas silenciosas. Sigo os ritmos que não conheço, caminho por paisagens de sons que me aquecem e me inspiram. Oiço-as repetidamente, sem me cansar, encontro sempre nelas motivos para as ouvir mais uma vez, sempre mais uma vez... sempre mais uma vez.
Redurmo.
Reparo agora que, lá fora, o vento fustiga a janela onde me debruço. Escrevo! Escrevo sem nexo, sem preocupações de qualquer ordem, sigo apenas o ribeiro de ideias que nasce em mim, persigo como cão de caça os paradoxos existênciais, farejo os sentimentos incongruentes e inconsequentes que me enformam.
Restam-me vestígios na consciência das cores que, momentos antes, tanto me arrebaram.
Esqueço-me de tudo.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Paisagem irreal

Passamos tantas vezes sem ver que, por vezes, só as cores fortes nos dão a consciência daquilo que nos envolve. Às vezes, é necessário a natureza emitir sinais arrebatadores de presença para a olharmos. Hoje vi o dia abandonar-se nos braços da noite, como nunca. Vi o céu vestir-se de arrebol forte, tão forte que era impossível ficar indiferente. Depois, à medida que o sol se afogava no oceano, este, foi diluindo com água salgada o laranja-forte, a noite foi misturando preto, tudo muito lentamente, sem nunca estagnar, até chegar ao cinzento crepuscular, translúcido e impreciso que se tornava impossível saber onde começava o dia e acabava a noite.
De repente, já entre penumbras e luzes cintilantes da cidade, levantou-ser um brisa arrepiante.
Fui para dentro.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Emoção versus razão

O equilíbrio entre a emoção e a razão é-me difícil. Pequenos problemas tomam proporções que nunca hei-de compreender. A onda que inicialmente se forma é pequena, depois, à medida que avança agiganta-se, sobe em altura e em volume, de tal forma, que toda a minha realidade física e mental se altera. Na tentativa de a compreender sinto que tem quase sempre um mesmo padrão. Normalmente, começa por atravessar as ruínas do passado, absorve a energia da impaciência, remexe angústias, arrasta tédios e quando, finalmente, dá à costa da racionalidade, da inteligência e do pensamento, tem já proporções de tsunami sem que dê por isso.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Wim Mertens

Caos

Todos nós temos dias assim! Talvez os astrólogos tenham razão. Talvez o alinhamento dos planetas nos induzam a fechar ou a abrir as portas. Hoje quero acampar em mim e refazer o caos. Hoje, apetece-me vagabundear pela ruas desertas e saborear o casario descolorido.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Antípodas

Rendo-me à ideia pessoana que a vida é imaginação. Neste momento concordo com a ideia, que me aprece óbvia, que somos muito mais que uma profissão, muito mais que meros pais, muito mais que filhos, muito mais que catacalismos e abismos, como já me disseram. Somos também Mundos, somos Galáxias que se tocam, que giram em espiral, que chocam e dos quais resultam outros Universos de diferentes substâncias. É assim que, num ciclo infindável, nascem outros mundos com essência de Sonhos e de Terra, de Luas e de Sois, mundos do Norte e do Sul, do Oriente e do Nascente, somos mundos tão próximos que, por vezes, nos tornamos antípodas.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Escuta, consegues ouvir-me!

Três. Definitivamente!, a geada queimou as as velhas vergônteas das giestas. Nada resiste a este frio enregelante, nem mesmo os viçosos tufos de erva nascidos na última primavera. Tu, no entanto, continuas a aquecer-te à fogueira da mediocridade da vida. Agora, crês que caminhas numa estrada larga, sem pedras nem obstáculos. Vais em em busca da cidade de ouro, deslumbras-te com o brilho do mesmo, que tanto almejas e que já avistas lá no cimo do monte. Parece-te encimado de pedras preciosas e tu ofuscas-te pelo brilho das esmeraldas e dos jaspes. Olha bem! Não passam de belos cristais de geada que derreterão aos primeiros raios de Sol. Escuta! Olha que a pior geada é aquela que vem de dentro.
Escuta! Não passas de liquen que vive em perfeita simbiose com o dinheiro, que encontra nele a libertação. Vais em direção ao Vazio, vais engaiolado e sem saberes crês-te livre.
Assim, jamais partirás!

Iggy Pop


(...)

Get into the car, we'll be the passenger
We'll ride through the city tonight
We'll see the city's ripped backside
We'll see the bright and hollow sky
We'll see the stars that shine so bright
Stars made for us tonight

(...)

Saldo


A “conta” está saldada. Vou continuar!
Este é um “blog” que não depende factores externos. Não depende da crise política, não depende da crise financeira, não depende das notícias dos telejornais, não depende de nenhuma das forças físicas ou quânticas do Universo... nem da opinião de ninguém.
Este é um “blog” que depende única e exclusivamente das impressões e de algumas (poucas, muito poucas) convicções. Logo, terminará quando concluir que já não as possuo. Terminará quando a Luz deixar de impressionar as minhas catacumbas. Terminará quando concluir que o fascinante movimento oscilatório do pensamento se tornou repetitivo e fastidioso. Terminará quando as Nereidas me abandonarem ou concluir que este meio de “socialização” moderno deixar de ser considerado como tal.