sábado, 26 de fevereiro de 2011

Inimigos

O Daniel, deitado no sofá, de olhos fechados ia desfiando palavras, sem nexo, sem lhe achar qualquer valor terapêutico. Não entendia o significado de tão incómoda terapia. O psicanalista permanecia imóvel no seu velho cadeirão, mal se dava pela sua presença.
- Tem inimigos? – instou o médico, de repente, sem que nada o fizesse esperar.
- Não! - respondeu o Daniel um pouco abismado pela pergunta descabida.
- Abra os olhos – ordenou o médico.
Ele obedeceu. Pode dizer-se que se assustou, talvez um susto de incredulidade, mas era um susto. Abanou a cabeça e fechou e abriu os olhos novamente para ter a certeza que não estava a sonhar. Nunca esperaria ver a sua própria imagem reflectida no espelho que o médico agora segurava.

2 comentários:

Jorge disse...

Por vezes os nossos maiores inimigos são, o nosso reflexo! O Daniel percebeu...? Quando o susto resulta de nós próprios, dá que pensar!
Jorge

António Sá Gué disse...

Exactamente:-)