sábado, 13 de dezembro de 2008

Na apanha da amêndoa

Depois, o sol ergueu-se, forte, como que a demonstrar possança, e só as almas pensantes mexiam naquele inferno. Os coelhos engolfavam-se nas lorgas, as raposas e lobos refugiavam-se nos altos, onde a ossatura do monte aflorava e se fracturava em lapas estratificadas e, onde as amendoeiras e as oliveiras davam lugar ao moitedo menos exigente. Os burros, atados pela arreata no cimo do amendoal, rabejavam incessantemente e escarvavam no chão como que a pedir socorro do ataque continuado do regimento de moscas, apoiados por uma bataria de moscardos artilheiros que voejavam em seu redor. As almas varonis, essas, ao longo de toda a riba, varejavam para o chão o fruto já bem seco, indo de amendoeira para amendoeira atentos às irregularidades do terreno, sempre a ver onde punham os pés. O mulherio apanhava amêndoa a amêndoa, que despejava às mancheias nas cestas de vime asadas, e haviam de ser mudadas à medida que se avançava encosta acima, com muito cuidado, não fossem esbarrondar-se e obrigar a nova e forçada apanha.

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