domingo, 10 de junho de 2012

Há abismos insondáveis


Hoje, esta chuva que cai lenta, terna, indolente e pastosa amolece-
-me o pensamento. Torna-me denso, como o nevoeiro que a envolve. Esta noite quieta que oiço passar em carros velozes, estes silêncios cansados de ser, afundam-me em abismos insondáveis da alma negra que me possui. Hoje, estas abstracções ignoradas dão-me a esperança de brevemente não ser e, naturalmente, deixo-me cair em sonhos sem fundo, em tristezas que calo.
Arrepio-me!
Nenhuma paisagem se alarga em mim, nenhuma aguarela deslavada me dá guarida, nenhum esboço de azul-celeste me eriça este sentir envelhecido, duramente endurecido em proposições, em indefinições, em razões sem razão, em flutuações graníticas que choro. Desconheço a sua formação, dói-me esse desconhecimento, hão de ser magmáticas, só pode, são profundas, mais velhas que o tempo, mais profundas que o espaço. Desdenho delas e desdenho de mim: vivo neste paradoxo insanável.
Estremeço!
Aqui, entre quatro paredes, a minha vida fecha-se em si própria, empareda-se num futuro sem renovo, aqui, neste confessionário não me chega nenhuma brisa predizente, nenhum argumento da existência, nenhuma lágrima que me alivie desta falha geológica que existe em mim.

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