domingo, 3 de junho de 2012

Quimera

Percorro-me. Desta vez levo um único propósito, acredito que debaixo das pedras que em mim habitam, e que iço com esforço, encontrarei a quimera deste sentir emotivo, as razões desta enfermidade, deste panteísmo que me mantém permanentemente neste estado dissonante, neste estado demiúrgigo alquímico que me leva a criar sempre mundos inexistentes. Dar-lhe-ia cânticos de louvor se me surgisse coerente, louvá-lo-ia se me deixasse ver uma fracção mínima da luz imanente de todas as coisas que os poetas dizem ter, mas não, arrebata-me sempre para a escuridão, como se a origem de tudo estivesse no Caos, na desordem de mim, como se nesta fragada confusa, que agora vejo, estivesse o mistério destas grades.
Repenso-me, vezes sem vonta...
Impotente perante a gravidade de mim, e antes que me afunde, olho em redor à procuro de salvação, não encontro ninguém, estou só, definitivamente só, surge-me apenas esta trombótica realidade.
Já insano, salto de fraga em fraga, iço a pedra da Ignorância, vejo apenas acumulações físicas da vida, secretáras polidas, trapos... que me pesam. Levanto a do Saber, e surgem-me apenas caveiras doutorais que vivem na escuridão, tal como eu. Sem utensílios capazes escavo com a unhas, como se fosse um animal feroz, escavo até ao fundo do existir e vejo: Nada. Com esforço levanto a da Virtude e não encontro moral. Desiludido com a realidade, cansado, ergo o olhar e esquadrinho o horizonte à procura de símbolos, olho o Sol, a Lua, as Palavras, mas tudo me parece realisticamente nítido, já no fim soergo a do misticismo, e deixo caí-la de imediato, Nada.
Descrente, desisto.
Avé, salvé, o Absoluto Nada.

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