domingo, 4 de março de 2012

Chamam-me!

Chamam-me para um tempo que já não sei dizer se é longínquo se recente. Chamam-me para a minha adolescência que sinto perdida, um tempo de amor e desilusão constante.
Embarco.
A barca birreme há de levar-me às profundezas da alma, se é que a tenho, ao oceano dos tédios e dos cataclismos íntimos mas com expressão externa. Perante as angústias medonhas, as águas agitam-se e, em movimentos ambidextros, ora com inteligência, ora com sensibilidade, procuro o difícil equilíbrio que neste momento não tenho.
Há uma tristeza profunda, inanarrável, que vem de dentro. Vórtice claustrofóbico, lapso de tempo sem ser, reflexo repleto de incompreensões e vazios, de ausências incompreendidas mas que, estranhamente, me fizeram homem, complexo, difícil de entender, monstro incoerente que, desde sempre, reconheço como meu. Sinto-
-o como se fosse um avesso de mim. Entrevejo inspiração e desolação, atracção e rejeição, nascente e poente, vida e morte de um lastro que arrasto penosamente.
Sentado à lareira, que me faltou, amplio-lhe a face à procura da fealdade e descubro beleza. Amplio-lhe as mãos à procura de sangue e descubro cor. Apuro a sensibilidade à poucura de luz e descubro sombra. Acentuo o raciocínio à procura de razão e descubro ilusão.
Ah!, que ambiguidade incompreensível que não domino.

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