quarta-feira, 21 de março de 2012

Já nem alma possuo

Já nem alma possuo. Em mim existe apenas um vazio volátil, um abismo que me separa de um corpo que também não é meu. Sou dono apenas de sentimentos. Em mim existe apenas um éter cósmico que se evapora repentinamente, uma elipse de nada que me descaminha por memórias olfativas inexistentes, auroras momentâneas de uns sofrimentos ansiosos, sensações dispersas de um tempo que deseja existir. Em mim há apenas lucilações borbulhantes, ausências de eflúvios nectares, sabores de leves aromas, perfomados e borbulhantes, que sobem à tona do meu sentir para logo desaparecerem como bolhas de champanhe.
Nada possuo neste núcleo de mim que diariamente se adensa, nada existe neste cerne ilusório de chumbo, neste borralho que me aniquila em combustão lenta.
Sou apenas dono de uma força gravítica universal que se condensa em palavras inorgânicas, em sintagmas sintáticos desconexos mas que se me revelam filosoficamente lógicos, mais lógicos que as próprias deduções matemáticas.

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