quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Nunca digas nunca

A gravação anuncia a chegada do comboio das 17:35.
Entro.
A viagem começa. Pressinto o amor dos jovens que vão à minha frente. Admiro a indiferença dos quatro amigos que jogam à bisca. Incomoda-me a inexpressividade da mulher encostada à porta, talvez de desilusão, seguramente de quem já não sente. Aprecio a esperança dos estudantes que discutem a matéria do dia. Com eles, por instantes, carreguei a saudade do tempo em que lá vivi. Fui a mundos distantes, mudei de alma, transmigrei-me, melhor dizendo, entrei nos confins impossíveis do tempo, também ele pintado de branco leve.
Chego.
Nem mesmo agora, já liberto do barulhento exterior, o sossego voltou. Assaltam-me pensamentos dissonantes.
Nunca se chega se nunca se tiver partido. Nunca se desembarca se nunca se tiver embarcado... A morte é o cais ingénito da vida, concluo. Tudo isto me parece um disparate contínuo, sem deixar de ser um paliativo existêncial incoerente.
Quero chegar, mesmo sem saber onde. Continuo a caminhar.

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