quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Se o corpo é um envólucro...

Se o corpo é um envólucro a alma não passa de um quadro absurdo de Brueghel, quadro a óleo de persistentes memórias, grafite de desejos, repressões e sublimações. Se o corpo é um envólucro a alma não é mais do que uma tela surreal, aguarela deslavada de essências metamórficas aprisionadas no tempo, cadinho alquímico de doces ausências, almofariz farmacológico de freudeanas regressões. Se o corpo é um envólucro a alma não passa de um livro kafkiano, conglomerado de conflitos absurdos, projecções intrincadas de sonhos e fantasias. Se o corpo é um envólucro a alma não passa do nascimento da morte.

2 comentários:

Fio de Prumo disse...

Do Brueghel à persistência da memória de Dali vai todo um abismo de obscuridades insondáveis!

António Sá Gué disse...

Não é minha intenção explicar o texto, não é a mim que me compete. Considero que no enigmatismo que o caracteriza caberão sempre diferentes entendimentos do mesmo, disso tenho a certeza, e por isso mesmo haverá muitas e diferentes leituras.
Seja como for, nesses abismos de que fala, e se percebi bem, que separam o burlesco de um quadro do Brueghel e o surrealismo do Dali, já não sei se vai assim tanta distância, mas, mesmo que que assim seja, essa distância é também alma humana. Nesse abismo haverá sempre alquimia de emoções e sensações. Vejo-o como um forno que mistura, que mói, que metamorfiza projecções, desejos, anseios, medos... e que, um dia, como qualquer rocha magmática subirá à superfície.
Obrigado pelo comentário!