quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O sono

Falava da morte. Da morte do pai que tinha acontecido há pouco tempo. Na noite anterior, ao despedir-se dele, prometera-lhe que no dia seguinte lhe faria a barba. E fez, cumpriu a promessa, mas já com ele sem vida. “Fiz-lhe a barba e era como se ainda o sentisse quente”, dizia ela, a filha. Descrevia-a como se ele ainda estivesse a dormir. E, de facto, o que há de mais semelhante se não o sono. Bem sei que é um sono do qual se não volta, bem sei que no sono há atividade cerebral, mas como não tenho consciência dela, ou raramente tenho, por isso considero-me morto. Morro porque não sinto, vivo porque sinto. Ninguém tem experiência da morte e porque esta é a minha verdade vivo e morro diarimente.

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