terça-feira, 15 de maio de 2012

Amanhã

Prometo! Amanhã vou levantar-me cedo. Quero ouvir a madrugada que há muito não sou. Possuir o ar fresco, inspirar fundo, arejar as cavernas bafientas desta lentidão do tempo, deixar orvalhar as dores da inexistência, retesar os sentidos com as cores desmanchadas da manhã que me hão de ferir a vista, me hão de fazer sentir que existo e aromatizar esta incapacidade de ser.
Amanhã vou alterar a minha percepção sensorial, vou deixar polarizar os nervos com os sons da manhã e embededar-me de luz amarga, prometo.
Amanhã! O amanhã é sempre o melhor dia! O amanhã, é real, existe verdadeiramente! Amanhã posso voltar a debruçar-me sobre este poço abismal, voltar a iludir-me com o movimento ondulante das searas de sentimentos, amanhã posso pedir inspiração à madrugada, aos deuses, à natureza, às musas.
No amanhã há esperança, não há entardeceres nem poentes, só ilusão. A ilusão é boa e real, faz girar o mundo.
Amanhã resolverei os meus problemas existênciais.

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