terça-feira, 22 de maio de 2012

Ser-se...

Ser-se é estar só. Abdicar. Abdicar do mundo exterior, repousar no remanso patoril do silêncio e viajar pela serenidade incompreensível que um fim de tarde nos trasmite. Existir é sentir! Repousar à sombra de nós, madrugar, sonhar, arrancar os jardins botânicos, sempre alinhados, que cresceram pelas palavras ocas, pela voz, pelo olhar, pela vaidade mundana, e deixarmo-nos levar pela frescura dos riachos selvagens ou morrer no calor abrasador de um deserto inexplorado.
Ser-se é deixar passar horas do dia a escutar o barulho da incompreensão do inexplicável, permitindo que o latejar desenfreado das emoções tome asas sem peias. Depois, já pela noite dentro, é pernoitar na moita das sistematizações, a construir e reconstruir o universo continuamente, ou, então, deixar-se embalar nos claustros da inutilidade dos pensamentos e adormecer acordado.

1 comentário:

vanyamarta disse...

A noite

Na noite dormimos mas nao paramos. Somos almas que repousam sobre corpos cansados e mentes despertas. Nao sabemos onde vamos sem sair do lugar. Fluimos no tempo mas nao no espaço. Entregamos o corpo ao descanso e acordamos os pensamentos. A noite é um lugar onde existimos por completo. Somos tudo. Somos capazes de tudo. O impossivel morre. O possivel deixa de o ser, perde todo o seu significado face às impossibilidades tangiveis. A noite é um lugar. Sagrado. Um confessionario sem padre. Uma cruz onde nos pregamos sem pecar. Vamos onde o proibido nao tem sentidos obrigatorios. Provamos tudo do que nos privamos. Pensamos. Reflectimos. Recordamos. Somos genuinos pela pureza que só aqui tocamos. Somos o universo. Sem fronteiras. Sem barreiras. A noite é para quem nao tem medo do escuro. De caminhos sombrios. De desfiladeiros frios. A noite é para quem quer sonhar. Voar bem alto, tão alto quanto o que se queira tocar. A noite é um lugar. O unico, onde nos é permitido aconchegar todo o nosso ser.

Vania Marta