quinta-feira, 10 de maio de 2012

À janela

Gostava de me contentar com o que me é dado. De ver simplesmente, de escutar, e nunca plantar a mente em outras paragens. Nunca ir alimentar a alma a outras pastagens, a outros recantos (grande parte das vezes escuros), à procura do nada, de sentir apenas, de encontrar outro sentido que não a mera monotonia de existir.
Gostava de não saber saltar para o campo da ilusão. Gostava de não saber ler, porque ler é sonhar, de não saber ver nem ouvir, porque os sons têm asas, de passar pelas vielas da vida numa preguiça de café, na conversa inútil, na arrogância da grandeza simbólica, deixar-me correr na sequência dos dias, existir apenas, tal como existem os montes, as pedras, os animais... e nunca confundir a realidade e o sonho.
Gostava que, uma vez postado à minha janela, visse apenas para um dos lados: o exterior.
Gostava de saber esperar... Saber esperar que o dia decorra, que a luz se extinga e com ela eu adormeça.

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