segunda-feira, 21 de maio de 2012

Deixem-me...

As piores horas são as da noite, estimula-me a alma. A noite carrega com ela um certo fluido de contradições e certezas que me angustiam, me magoam e me levam ao desespero. A noite obriga-me sempre a olhar para mim como se apenas eu existisse. Na noite há apenas esperança na inquietude e na descrença que, habitualmente, perdura até madrugada. É um lobo faminto que me devora, devora-
-me o conhecido e deixa-me apenas o esqueleto de mim, deixa-me entregue ao desconhecido, à finitude do tempo, aos males que me apertam as goelas, aos tumores que crescem em mim sem dor. Leve o diabo a noite e a vida, dispenso ambas.
Dispenso tudo. Quero desistir, não quero mais sentir, amputem-me os nervos, anestesiem-me, quero partir sózinho, caminhar, seguir o cabo das tormentas, quero alhear-me, quero ser ignorado, não quero escutar ninguém... Não peço compaixão, apenas que compreendam este sentir amargo que não me larga e me corrói. Deixem-me! Deixem de me cochichar, de me olhar como louco.
Já não sou eu, eu sei, sou reles, desprezível, repugnante, torpe... tal como vós, mas não me perguntem nada, não me perguntem o que tenho. Não tenho nada, não sei explicar-me.
Quero apenas respirar!
Deixem-me...
Por favor, deixem-me...

1 comentário:

vanyamarta disse...

Como se costuma dizer... só os poetas e os loucos vivem na noite. Ser poeta é ser pelas palavras que tao bem espancou a nossa Florbela... Ser louco é ser o que em nada de tem de pouco.