sábado, 5 de maio de 2012

Oração à morte

Salvé, imaculada e incompreendida inexistência que hoje chegas até mim.
Sei de onde vens mas não sei onde estás. Eu já existi em ti, já me aconcheguei no teu útero, mas não te conheço. Conheço-te de um tempo desconhecido, do tempo em que não fui e ao qual brevemente voltarei.
Tu, aconchegante frialdade, existes serenamente nesta renúncia de mim. Tu és o meu lado obscuro, aquele que não tem luz mas que ilumina. És o desejo profundo, e são, de me olvidar de tudo, a dimensão real que não conhece formas nem emoções desta minha ilusão. Tu, sentinela negra desta minha consciência jamais te negarei.
Sei que te desejo mas não te quero. Não quero essa brandura do não sentir, prefiro ignorar-te, saber que não me olvidas, saber que nada sou a saber que nada sinto.
Prefiro contar a não me lembrar.
Prefiro a finitude do desassossego à eternidade do sossego.

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