segunda-feira, 28 de maio de 2012

A mãe do desgosto

Lá fora está frio, vou para dentro. Subo a escada de mim, pressinto um novo ataque. Antecipo-me e adianto as palavras. Preparo o assalto à loucura da incompreensibilidade.
Salto da minha trincheira e corro na terra de ninguém. Desafio a vida, persigo a morte, tropeço no pecado original, caio, reparo que há muito estou na cova por mim escavada, dessubstancio-me, retiro o essêncial de mim e verifico que o sol não brilha.
Fico imóvel, oiço vozes dos mundos lá de fora: gritos de guerras angélicas, choros prepotentes de fome, todos eles uniformemente audíveis como se não houvesse distância nem espaço, como se o vazio da loucura imperasse. A cabeça estala, dou uivos na eternidade, pontapeio o absoluto, abençoo o relativo.
Franqueio as portas do asilo e entro nele. Choro lágrimas de riso que não tenho.
A simplicidade da vida, feita complexa, pesa-me.

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