sexta-feira, 4 de maio de 2012

Novamente a insustentável leveza do ser

Fora de mim há vida. A noite envolve-se numa serenidade premonitória e aconchega-se numa atmosfera branda e verdejante. Cobre-se com luxúriosas mantas de giestas e pinheiros, aquece-se à lareira de Morfeu.
Em mim, neste crepúsculo permanente, neste lusco-fusco que me impede de ver com claridade, há morte. Em mim sinto nascerem árvores sem fruto, folhas outoniças, amarelentas, flores sem pétalas. O meu ser aconchega-se nas chamas do sentir doentio, encosta a cabeça ao travesseiro do sonho e espera que os carvalhos predizentes lhe dêem respostas. Aguarda que este sangue frio, este pressentir o envenene definitivamente e o leve deste plano, espera neste palco do absurdo a inatingível compreensão das coisas que nada valem.
Assim, como quem Espera por Godot, este meu “eu” malsão vai envelhecendo em busca do “nada”, acorrentando-se ao manicómio da existência, gastando-se nesta insustentável leveza do ser até à libertação final.

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