O baú continuava fechado
Ninguém o queria tocar
Estava, desde sempre, trancado
No meio de pessoas a passar
Era tido como um fardo pesado
Que, ali, se fazia estorvar
Desde os olhos do passado
No presente que faz preservar
Estava, então, o baú ignorado
Nada faziam para o dilacerar
Mas houve, hoje, um alienado
Que o abriu para analisar
E sobre um olhar espantado
Espelhou-se o inferno a dançar
Era um fogo movimento
Por corpos, calados, a falar
O batuque era como que ensaiado
Em miniaturas humanas a agitar
Por um gesto uno e coordenado
Que, flexível, era intenso a rimar
E os corpos saindo, iam para este lado
Vendo o seu tamanho aumentar
Sempre em passo leve e vincado
Que fazia aquele inferno andar
Mas só inferno existe onde há lugar
E só lugar há quando delimitado
Pelas divisões a discriminar
O impulso condenado
Que pior se irá tornar
Pelo ostracismo exagerado
Que evita, egoísta, ajudar
O réu a ser, no bem, educado
E só quando tudo se misturar
O inferno deixará de ser achado
Na diferença que o igual há-de abafar
Por antagonismo ao gesto incriminado
Um poema de Sara Guetta Serra e um nome para fixar.