sexta-feira, 17 de outubro de 2008

A Feira

Nos dias de feira a praça tornava-se ainda menor. Os feirantes eram os de sempre. O Sr Pompílio, o ourives, montava a barraca dentro do adro. Naquele momento pendurava os pingentes reluzentes em mostradores negros, realçando o seu brilho e beleza. Junto ao urinol cilíndrico e fétido, não faltou o sapateiro de pernas amputadas, que além de butes adequadas à lavoura, não descurava outros modelos capazes de satisfazer outros pés mais exigentes. Ao lado da Igreja do Santo-Cristo, e depois do bufarinheiro do costume, ficava a muito apreciada veniaga (atoalhados, cobertores, colchas) da Luísa Tendeira, que anunciava pelo alto-falante que aquela linda toalha alinhada, não custava, nem treze, nem doze, nem onze escudos. E para quem trouxesse uma moeda de dez escudos oferecia um sombreiro, e um par de coturnos. E ainda,... para quem trouxesse a mesma moeda de dez escudos, oferecia uma toalha. E logo o poviléu se ajuntava, para ouvir mais uma vez aquela lenga-lenga, repetida até à exaustão. Também o ti Ferrador se apresentou com as suas canetas: podões, calagouças, alviões, enxadas, forcadas, relhas, e até as apreciadas facas de Palaçoulo, e, como sempre, prantou a sua mercadoria, sobre a mesa granítica, defronte da casa da junta.
"..."
In: As duas faces da moeda

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