sábado, 25 de outubro de 2008

O silêncio das pedras

Calcorreou as pedras negras da íngreme calçada, que lhe falaram do tempo de meninice, sim porque as pedras dizem coisas, ninguém me convence do contrário, não há silêncio nas pedras, as pedras falam – não com o sentido de coscuvilhar, bem entendido, a sua alta honradez não é digna de tal estreitura – de e para a gente, basta saber escutar, basta esperar pelos momentos mágicos do amanhecer ou entardecer, pela quietude do travesseiro, ou então simplesmente, esperar que os anos nos endureçam, que o camartelo do tempo nos enforme e nos aparentem a elas. Eu ouço murmúrios, queixumes de injustas pisadelas, por vezes ouço gritos de revolta pelo peso que carregam, ouço vitupérios de desprezo pelo cimento, ouço hinos beneditinos de louvor ao trabalho, ouço interrogações de espanto perante subidas catedrais, ouço os muros de Tebas na lira de Anfião, ouço ventilantes penedos a versejar,
ouço odes no cascalhar,
ouço limas polidoras nos calhaus a rolar, ouço gemebundos calceteiros de cócoras a martelar, vejo ascese em quem constrói.

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