terça-feira, 7 de outubro de 2008

Um rei sem reino

No reino dos baralhos de cartas, o Rei de Copas era o mais infeliz. Os outros, o rei de paus, o de ouros e o de espadas, viviam satisfeitos, pintados no baralho de cartas do senhor Agostinho, que era homem de poucos jogos. Quando algum dos seus netos os prensava entre o indicador e polegar, e no fervor do jogo os batia com força na mesa da sala, para eles, os reis de paus, de ouros e de espadas, esse era sempre o seu momento de glória. Ah! Se os batiam com tanta força, é porque tinham grande poderio,
Mas o rei de copas não sentia isso, vá-se lá saber porquê! Ele achava que um rei só teria dignidade e poder se possuísse um reino, um pedaço de terra onde lhe obedecessem. Foi este o primeiro pensamento que teve no momento da coroação, ou melhor, no momento em que o pintor espanhol lhe desenhou a coroa no cocuruto da cabeça.
Num dia de Primavera, no tempo em que a terra se renova e floresce, cobrindo-se com um manto matizado de verde, o Rei de Copas, aproveitando ser o primeiro do baralho, descolou-se com muito jeitinho da carta de jogar, não fosse ficar colado algum pedaço ao rectângulo de papel, e, pé ante pé, fugiu sem que ninguém o visse.
Aquela vestimenta que lhe desenharam, própria de rei, não era muito adequada para quem caminha, mas a ele, que estava decidido a encontrar o seu reino, nada o impediria.
Mal o mui nobre Rei de Copas saiu da casa, como que por magia, encontrou o Peter Pan.
– Peter Pan, Peter Pan! – chamou o Rei de Copas, ao mesmo tempo que acenava com a mão para lhe chamar a atenção. O Peter Pan, absorvido, nem o ouvia.
– Peter Pan, Peter Pan! – insistiu.

"..."

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