quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O eucalipto

E o homem, pacientemente, explicou o contrato de vinte anos, a plantação de eucalipto, que é uma planta “nobre” de rápido crescimento, dizia ele, a renda anual, a comparticipação nos lucros da fábrica de pasta de papel. O senhor Fernandinho não hesitou. Vendeu-se mais uma vez. Antes ver floresta que ver as amendoeiras e oliveiras ao deus-dará, abandonadas, sem lhes poder valer. Nem mandou dizer aos filhos, meteu-se-lhe aquela na cabeça e ao fim de oito dias já ele assinava o contrato.
Mas não se pense que foi pêra-doce para o senhor Fernandinho, a quem dava dó ver os possantes catrapilas desenraizar as centenários oliveiras e carregá-las para serem vendidas por essa Europa fora, a alindarem algum jardim de alguém endinheirado. Até os muros de pedra solta foram veniaga. Como é possível?..., perguntam-se alguns. Não estou a falar de pedra, não, estou a falar de muros, muros de pedra solta,
muros que contam história,
peças de património,
molduras da paisagem,
Não! O dinheiro tem mais peso… Qual património, qual memória de povo!… As máquinas precisam de entrar à vontade.
Morreu de pasmo, quando os charruões, capazes de arrancar fraguedos, esventraram sem dó nem piedade o olival da Ferraria.

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