Uma lenda carrega com ela sempre um peso ancestral. É algo que me remete para um tempo longínquo, é como se esgravatasse na génese das coisas, ou então, como se fosse ao útero da nossa existência, o que é um desafio medonho mas simultaneamente enriquecedor. Apetece-me dizer que é como se andasse a remexer nos nossos abismos e regressasse mais rico.
Ler lendas é sentir o peso do tempo, o que muito me agrada, como já se viu. Ler lendas de locais que conheço é um duplo prazer. Ler lendas que envolvem locais que me são comuns é obrigar-me a viajar neste espaço/tempo que é meu, é obrigar-me a interpretá-las e assim poder entrar no início da maravilhosa caminhada humana, de que falava lá atrás.
Ao ler as
Lendas do Porto, do Joel Cleto, deve acrescentar o prazer de sobriedade estilística do autor e a desenvoltura da narrativa que consegue imprimir em todos momentos. Ler as
Lendas do Porto é desafiar o leitor a procurar uma permanente contextualização dos vocábulos e das frases, ou seja, obrigá-lo a percorrer os diferentes sentidos que ambos podem assumir.
Ler JOEL CLETO é como aprender a escavar no tempo e na alma coletiva portuense. Ele, que vem da arqueologia, transporta esse conhecimento com mestria para as palavras. Pouco a pouco, pazada após pazada, são-nos revelados fragmentos de uma cultura, despojos soterrados (por vezes já prensadas) em camadas do nosso “inconsciente coletivo” e que ali estão, silenciosamente, à espera de se manifestarm.
É como se, em câmara escura, as fotografias de um determinado tempo e espaço, fossem sendo reveladas e, aos nossos olhos, sempre ávidos de luz, o negativo se fosse transformando em positivo.
À medida que se vai avançando nas páginas vão-nos sendo revelados segredos de um templo imaterial, sustentado em colunas que somos todos nós, que reconhecemos como fazendo parte da nossa “consciência coletiva”, mas que tantas vezes menosprezamos.
NÃO PERCA!
Título:
Lendas do Porto;
Autor: Joel Cleto;
Editora: QUIDNOVI;
Apresentação:
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